sexta-feira, 5 de março de 2010

Will I still...

Vou à janela quando sais.
Faço-o desde sempre, porque sim, porque há uma força qualquer que me impele para lá. Fico encostada a ver-te afastares-te, a diminuires de tamanho, até deixar de te ver quando dobras a esquina. Enquanto o frio da pedra não me desperta deixo-me ficar encostada, com os olhos postos no ponto onde desapareceste, num misto de saudade e de sensação de paz. Ou se calhar apenas de alívio, com o sentimento de ter feito tudo bem até ao fim. Como se já não fizesse mal que não voltasses. Ou que voltasses e já não me encontrasses.

Não sei, não quero saber, coisa alguma sobre o futuro.

terça-feira, 2 de março de 2010

São os trapos


Escorreu-me um não sabes como às vezes me custa quando me disseste, divertido, a menina anda sempre arranjada, varia muito, tem coisinhas novas muita vez. E, como se não bastasse, acrescentaste que quando gostas, gostas. Que o sobretudo que trazes já é quente demais para estes dias, mas que uma vez resgatado ao roupeiro já avançado o inverno, te tinhas apercebido do quanto gostas dele e que não te apetece deixá-lo. Em oposição ao meu ombro nu, muito branco, disseste, numa blusa antecipando a primavera. Sem mangas. Continuaste, achando graça à forma sistemática como não repito o calçado. Se soubesses como às vezes me custa, disse-te desta vez num sorriso aberto. Para que pensasses que te mentia. Com o olhar pousado na cúpula azul da mesquita. Infiel.
Só muito mais tarde te disse que, ainda que não pareça, também eu desejo o conforto tranquilo de não ter de procurar ou de escolher mais. Que quero saber com o que contar, sem a decepção de descobrir, pouco depois, que afinal me assenta mal. Que prefiro macieza do tecido puído pela convivência com a pele à novidade. Que não está tempo para blusas sem mangas mas que me alegram à falta do agasalho que se molda aos meus ombros e não me aperta o cotovelo quando dobro o braço. Aquele com que se vive, convive e revive. Que se conserta, remenda e recupera com dedicação e amor. Por vezes dou comigo a querer isso mesmo, a desejar encontrar o que me assentará bem, que nem uma luva, e que não vou querer trocar nunca mais. Mesmo que esteja a perder o pelo, mesmo deformada e esfarrapada, barriguda e fora de prazo, acresentaste. Sim, disse-te. Isso mesmo, fiz-me entender. Afinal percebes de trapos, atirei-te no meio duma careta.

Wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking, wishful thinking. Apenas.