quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Amor do tamanho do Universo


Falham-me as palavras, todas me parecem mínimas, incapazes de descrever o quanto se ama um filho. Esta minha, a minha primeira, faz hoje 18 anos.
Transborda felicidade e eu também. Sinto-me grata e abençoada. Muitíssimo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A segunda


A segunda é, em geral, mais nova do que a primeira. Mais alegre, mais luminosa, mais arejada. Distinta, também, é a motivação que leva a querer tê-la: para descansar. Da primeira. Pelo prazer. Que não se sente na primeira porque lá só há rotina. Mas quando pergunto Mudar-te-ias?, a resposta é Não, gosto, mas é só para passar uns bons bocados.
E eu fico perplexa, não entendo. Acho que é para casa, para a primeira, que se deve voltar, gostar a valer e serem lá os melhores momentos de todos. Ou isso, ou mudar-se, e a segunda passa a ser primeira. Vida de saltimbanco? Não obrigada.

Ter uma segunda, uma segunda habitação é, na maioria das vezes, mais do que um luxo, um capricho. E por isso acho bem que se pague IMI.

Perdidos? Não me parece.


Durante uns dias não me apeteceu falar nem ouvir. Pouco me conforta quando os dias chegam assim como chegaram aqueles, de madrugada, e me mantêm acordada contra a minha vontade horas a fio à espera que chegue o sol.
Tratei de ser paciente ma non troppo comigo, como o foram e são sempre os que me amam, nos momentos em que confundo neura com tristeza ou, pior ainda, com infelicidade. Dá-se um tempo e depois basta. Chorar faz bem, desde que não seja em demasia.
Tudo passa e a ligeireza com que pode passar depende de abrirmos os olhos e vermos bem à nossa volta, tantas vezes mesmo ao nosso lado. Ser capaz de relativizar, dar a verdadeira importância às coisas e, sobretudo, não ficarmos presos ao que já passou e ao que não está na nossa mão mudar é, parece-me, um exercício inteligente a repetir sempre que necessário.

Não estamos sós nem perdidos. Ai isso é que não estamos. Garantimos. Eu e ele.

domingo, 18 de outubro de 2009

O melhor do mundo


Já tiveste uma criança a dormir nos teus braços?
Sim? És um privilegiado, então.
Se já tiveste uma criança a dormir nos teus braços e percebeste que mais do que aquilo que lhe poderás comprar, do que ela necessita é do aconchego do teu colo, da segurança dos teus braços e da doçura do teu olhar, então, mais do que privilegiado, és abençoado.
Pobres e tristes os que se fecham no seu pequeno círculo, que se afastam por não saberem dar, que negam o peito com medo de perder.

E a criança que existe em ti, que é feito dela, que colo tem tido?
Quando foi a última vez que essa criança adormeceu, serena, nos braços de alguém?

Há dias em que me sinto grata por não deitar fora coisas que escrevi há muito tempo. Há recordações realmente doces, como o registo de ter uma criança correndo para os nossos braços. A foto é de 2001. As crianças continuam nos braços. Sempre.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pés à parede. Doucement.


Hoje não foi, de todo, um dia que devesse passar em branco. Estou contente comigo - aguentei-me na derrapagem, não fui ao chão.
É difícil lidar com a força centrífuga- tira-nos de nós. Pior, esmaga-nos o coração contra as costelas. E isso dói, muito. Mas hoje não. Pus pés à parede, tout doucement. Porque a doçura, principalmente a que experimentamos connosco mesmos, é a que tem mais chance de crescer, transbordar e chegar a tudo o que fazemos. Chamei-me de lado e disse, tra me e me, baixinho, menina, então? recompõe-te! Beijei o braço, cá perto do ombro, como fazia a miúda mais crescida e disse, como ela dizia, gosto muito dos meus bracinhos. De volta, recebi um abraço. Aquele que melhor me faz.

Saber pôr os pés à parede, tout doucement, sem ser a pontapé nem fazer alarde, é um exercício que se recomenda. É saber dizer não, a nós mesmos e aos outros, no momento certo, da forma certa, pela razão certa e, claro está, à pessoa certa. Exige que não nos deixemos levar pelo calor da emoção momentânea, da raiva sobretudo, que nos leva a reacções exageradas. E tal pode começar com uma coisa tão simples como contar até dez devagarinho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Just... do it!


Às oito e meia da noite o ar ainda estava quente e pesado. Respirei fundo e comecei, angustiada. Depois da escadaria foi mais fácil acertar o passo e depressa cheguei ao entroncamento perto do rio. Tomei a direita.
Apeteciam-me as luzes de Lisboa ao fundo, o Cristo Rei iluminado (mesmo que de costas para mim) e as luzes da ponte qual cidadela de um navio. De um navio daqueles que partem para longe e deixam saudades na ponta de lenços brancos agitados do cais. E eu, que já tive saudades sem ter partido e até de viagens que não fiz, sonho com um navio, com uma partida a sério e com saudades que doam mais do que estas todas que já senti para que possa sossegar e dizer, daquelas, não-foi-nada-afinal.
A boca seca fez-me descer os olhos do horizonte e procurar a frescura da água do rio, mesmo ali ao lado. Nada. Nem uma brisa, apenas o ar húmido a tornar-se pastoso como o fundo do rio na maré baixa. Sorri-lhe ao achar outra vez que temos mais em comum - a exuberância da maré alta e o lodo na maré baixa.
A sazonalidade dos estados tranquiliza-me. Sei que a frustração é um sentimento passageiro, como sei do que preciso nessas ocasiões. De correr, de me superar de alguma forma. Propus-me a dobrar a distância que de vez em quando faço, oito quilómetros em vez de quatro. Aí não há espaço nem tempo para manias nem auto-comiseração. Ou me concentro na respiração e na cadência ou desisto. Concentrei-me.
Regressei em paz comigo, uma paz suada, trazida a pulso lá do fundo de mim que é como o leito do rio - onde ficam as marcas das águas que passam e não voltam. As pessoas, como os rios, conhecem-se quando se lhes conhece o fundo. Na maré baixa. Estejamos ou não preparados para sentir o desconforto do lodo, a verdade é que é no fundo que assentam os pés. Tudo o resto vai à deriva, ao sabor da corrente.

É hoje, já hoje, que vou ter um dia melhor.

Areia na curva


Chateia-me perder o pé (nem que seja por umas horas). É como fazer uma curva e apanhar areia. Quem já experimentou pode ser solidário comigo, mesmo que só em pensamento, e soltar um Ui!
Não gosto de ansiedades, de dúvidas, de imaginar perguntas para as quais não tenho respostas porque não dependem, de todo, de mim. Estou furiosa porque o dia cresceu assim e o trabalho não me rende.
Esta é para mim: Basta! OK???

Quando chegar a casa equipo-me e vou correr. Esta energia bera é para gastar. Vade retro! Vade! Vade! Vade!

Inspirar


Leio por vezes, pela manhã, coisas que me deixam inspirada. Não por serem cor-de-rosa ou contarem histórias de Cinderelas mas por serem, pelo contrário, espelho do que vai por dentro de alguém. Porque há quem não consiga deixar preso dentro de si o que sente. Gente que expurga a mágoa, que se rejubila com o bom e tem, acredito, esperança, mesmo quando o nega. Ou não estaria a dizê-la. Quando se desiste é o silêncio que impera, não a voz, num sussuro que seja. Não sei em que têm esperança. Naturalmente. Porque a esperança não se projecta. Tem-se. Ao contrário da expectativa, que é carregar os ombros dos outros com as dificuldades que vão connosco.
Li, esta manhã, enquanto tomava café e o ar fresco subia do rio, coisas que me inspiraram. A repensar outra e outra vez no que sou e no que faço. A reequilibrar o que desejo e o que espero. Para mim e de mim. Apenas.

Inspiração deve ser isso mesmo, enchermos os pulmões e a alma de ar novo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Jump!


O rio, sempre o rio comigo e em mim. Aquele rio que mesmo quando já parece ser mar ainda é ele que ali está. Está naquele momento e logo no momento seguinte é ele ainda mas já não é a mesma água. No entanto, o rio é o mesmo. É como eu, é como me sinto. Em mudança permanente mas continuando a ser quem sou porque sou isso mesmo- mudança.
Estive lá, à beira da água, a passar em revista águas passadas, a ver as águas que passam agora e abrindo braços a águas futuras. Tranquilamente e em boa companhia.
O turbilhão emergirá depois. Ou não. Mas estamos de acordo, não se vive em antecipação, mas antes o presente. E esse foi, hoje, uma dádiva.
E a Casa de Santar brinda à falta de vergonha e de medo. É que não há pára-quedas melhor que sabermos, por pouco que seja, quem somos. E não nos envergonharmos disso- nem do que sabemos, nem do que ignoramos (mas que estamos dispostos a descobrir).

sábado, 10 de outubro de 2009

E quando a prima donna é ele?


Tinha para mim que os homens eram mais chegados à terra, com menos manias do que nós. Que não falam por rodeios, vão directos ao assunto e que, sobretudo, são mais dados a caçar do que a serem bunnys ou bambys, ou seja, a serem caçados.
Sempre li, ouvi dizer e me disseram, vis-à-vis, que detestam mulheres chatas e piegas, que os perseguem com telefonemas e sms's, que fazem birras e amuam quando eles não lêem nas entrelinhas (queridas, não adianta, eles raramente sabem o que são entrelinhas, mas isso também não interessa aqui nem agora).
Pois bem, crescendo e aprendendo: há-os com todas as características que tanto criticam nas mulheres.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DIY sempre? Não.

O gosto pelo porquê, pelo como se faz e pelo como funciona andam comigo desde que me conheço e, dos presentes que o meu pai me deu, recordo que recebi com especial entusiasmo um busca-pólos e um alicate para escariar fios.
Por cá, no último mês as avarias têm-se sucedido e foi altura de deitar mão à caixa de ferramentas. No início houve um misto de raiva e impotência. A primeira porque me vi sózinha, porque achei injusto não haver um par de braços logo aqui com os meus e um sorriso cúmplice a dizer-me vamos a isto, somos capazes, e a segunda porque apesar de saber como se faz me falta força. Aquela força de pulso necessária para abrir tampas, desatarrachar e, no final, dar aquele aperto.
As modestas conquistas que me encheram de confiança, para além da questão da máquina da roupa, são:
1- a substituição da canalização que alimenta a misturadora da cozinha - comprei bichas e borrachas, sózinha, tudo certinho à primeira sem precisar de instruções. Instalei tudo mas, claro, tive de pedir ajuda para o aperto final mas ficou tudo fantástico, não cai uma pinga!
2- diagnóstico do problema do carro- estou apeada, é certo, mas quando disse (entusiasmada) na oficina o que achava que passava o técnico só se ria e dizia é isso mesmo, mais umas achegas a chamar as coisas pelos nomes. Apetecia-me ter lá ficado, ver o carro subir no elevador e aprender a desmontar aquela coisa. Continuo apeada.
3- fabriquei uma peça para o pisca traseiro da scooter da miúda mais pequena - os casquilhos das lâmpadas de baioneta têm uma mola e um disco que mantêm a base da lâmpada em contacto com o resto do sistema (sei lá como se chamam estas coisas!). Solução a la McGyver, a mola saíu duma caneta que fazia publicidade à universidade que fica do outro lado da minha e o disco fi-lo a partir da tampa duma garrafa de água. Pelo caminho foi preciso desmontar os plásticos quase todos da scooter e voltar a montar tudo, com algumas falhas no respeito ao first out last in por distracção. Trabalho de equipa de pai e filha, os dois na garagem quase toda a tarde como quando me ensinou quase tudo o que sei sobre electricidade.

Porquê escrever isto, que provavelmente qualquer pessoa também faria? Porque tem a ver com dificuldades internas, barreiras, insegurança e uma necessidade de auto-demonstração de capacidade. Porque detesto chamar por socorro antes de tentar resolver as dificuldades. Mas, sobretudo, porque ontem estiveram, pai e filha, próximos, muito próximos. Porque o amor e os laços que unem mais fortemente os seres humanos são aqueles que se criam quando se empenham conjuntamente para vencer dificuldades. Porque a minha zanga por me sentir só tem pouca razão de ser. E também para voltar aqui daqui a uns tempos, quando estiver zangada e disser que não quero que se cheguem a mim, que sou bem capaz de resolver tudo sozinha, que tenho de ter presente que as dificuldades são oportunidades. Não só de aprender mais alguma coisa mas também de reforçar laços.

Na minha mala de ferramentas falta, entre muitas outras coisas, um conjunto de chaves de bocas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sim ou... sim?


A paixão move-nos.
E fá-lo a uma velocidade tal que só quando batemos com os ossos no chão é que nos lembramos dos anúncios da prevenção rodoviária. Aí, a maior ou menor custo, levantamo-nos, sacudimos a poeira e garantimos que aprendemos, que da próxima vez não será assim. Ou não. Ou que se acabou, que não haverá próxima. Ou sim.
Quanto a mim, é caso para dizer been there, got the t-shirt to prove it. E, porque não há duas idas ao tapete que sejam iguais, carrego comigo todas essas certezas contraditórias em que, cada uma de sua vez, acredito a valer.
Já o amor... sustenta-nos.
Esta é a certeza a que me agarro com unhas, dentes e alma e que emparelha sempre, embora de forma alternada, com as outras certezas mais acima. O amor pela vida, por nós mesmos e por aqueles que estão e estarão na nossa vida. De forma não narcisista, mas antes um amor tolerante, que aceita diferenças e, sobretudo, respeita. Descobri que vou no bom caminho para saber amar assim. Acho que já sei amar assim. Sei um bocadinho. Sou, depois de ter dado várias vezes com as costelas no chão e de muitas feridas lambidas, hoje, uma pessoa muito mais tranquila e mais feliz também.
Andava eu blá-blá-blá-blá-blá-blá,blá-blá-blá-blá-blá-blá, whiskas saquetas, agora-é-que-estou-bem-assim-calminha, adepta do amor-próprio-e-fraterno-e-mais-nada quando zás! dou por mim com ar alienado a rir-me p'ra toda a gente.

O amor sutenta-nos, a paixão move-nos.
Se se pode viver sem paixão? Pode, sim. Mas tem muito menos graça. E já que as costelas estão em excelente forma, venga!

Sim, venga! que tenho aqui à mão um estojo de primeiros socorros...

domingo, 4 de outubro de 2009

Escolhas?


Vi-as sentadas à beira da estrada, uma após outra, à sombra dos pinheiros. Ambas numa espera displicente, própria de quem não quer o que espera que venha. Eram as duas miúdas, garotas de rosto fresco, quem sabe da idade das minhas filhas, feitas mulheres. Mulheres de vida fácil, como sairá da boca de gente que só pode não saber o que diz.
E eu, cada vez que vejo isto, sinto que sufoco. Depois passa-me, porque na minha pequenez todas as dores alheias se desvanecem. Passa-me a dor e fico só a sentir-me em falta. Porque dia após dia, não importa quanto faça, estarei sempre dando menos do que recebi- a possibilidade de escolher. De facto.