quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DIY ou o poder do não


O "não, obrigada, não é preciso, eu faço sózinha" sai-me com uma facilidade espantosa. É daquelas frases alojadas nas amígdalas que saltam sem passar pelo cérebro. Digo-o logo, sem tentar sequer colocar-me no lugar de quem oferece de boa vontade, digo não e pronto. Família e amigos ofendidos já me disseram, carinhosamente (ou não), não sejas assim, não conseguimos chegar a ti, não nos aceitas para o que é próprio do Amor, que é a partilha das dificuldades. Nessas alturas reconheço, sorrio e digo que têm razão, que mudarei.
Tento.
Tentei há dias, quando me levantei e me deparei com a máquina de lavar roupa com o programa terminado e a cuba cheia de água. Não carece inscrição na Ordem dos Engenheiros para se ser capaz do diagnóstico: bomba da água entupida. Sei como se faz, desmontar e montar devidamente trecos desses passo a passo, a menos do mais elementar: ter força suficiente para abrir o diabo da tampa. Não tenho. E eis que vi no caso uma oportunidade e liguei, mão estendida aberta, desta vez para receber ajuda. Do outro lado isso é fácil, fazes tu ou chama o técnico e se não conseguires mesmo ou ele não puder diz, que nesse caso vou aí. Encaixei, chamei-me asna, furiosa, por ter dado parte de fraca e pus-me ao trabalho. Drenei a máquina o mais que pude, haja paciência para vazar oito litros de água à velocidade do soro a entrar na veia. Depois foi a vez da tampa da bomba, mais fechada que uma noz. Perdi a conta às tentativas para rodá-la e ela imóvel. Insisti, insisti, esfolei os nós dos dedos, voltei a insistir. Acabou por ceder e foi a vez da água espalhar-se pela cozinha. Ri-me sem o desespero da mulher do anúncio do calgon, mas antes com o gosto próprio de quem levou a melhor, apanhar água do chão é canja. Desobstruí a ventoínha, fechei tudo e liguei a máquina. Funcionou, claro.
Quando a ajuda chegou tive de respirar fundo. Apeteceu-me um já não é preciso magoado mas respirei fundo e disse: ainda bem que pudeste vir, preciso de ajuda para desmontar o rodapé dos armários da cozinha e limpar lá por baixo. Uma daquelas coisas simples, mesmo muito fáceis de fazer, mesmo muito chatas, mas que se fazem muito bem em boa companhia.

Quanto à tampa da bomba, estamos entendidas eu e ela: agora está fechada pelo meu pulso, será aberta pelo meu pulso. E DoItMyself. É que ouvir nãos e ficar como se nada tivesse sido... ainda não cheguei lá.

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