terça-feira, 30 de junho de 2009

Quem quer...

... encontra um meio.

Não sei se a teimosia frutifica, a tenacidade sei que sim. Isto o que é? É outro neurónio a menos- diz a tainha.

Não terei


Não sei como reagir a notícias destas. Fico perto da apatia, que deve ser uma espécie de negação calada. Primeiro pareceu-me que tinha deixado de ouvir para, depois, o silêncio ser lentamente tomado por um ruído grave e crescente que me faz tremer o peito por dentro. As avalanches devem ser assim, quando se ouvem ao longe. Depois avançam furiosas, cobrem tudo e instala-se a escuridão debaixo do manto branco.
Abri o e-mail a correr, queria mandar-lhe fotos e dizer que sim, que me rendo, que a neve também é, a par com pôr copos a boiar, o máximo como ele diz. Adiantou-se-me, para me dizer, em poucas linhas, Pois, fizeram-me o tal exame, estou a escrever-te do hospital e assinou, como sempre, Enviado a partir do meu iPod. Fiquei quieta a ouvir chegar a avalanche, que afinal é água que enche o peito e transborda.
Não sei reagir a coisas destas, não sei o que se diz. Sinto a pequenez das minhas queixas e a convicção de que, mais do que nunca, o tempo tem de ser de esperança, aquela que tento aprender e de que me sinto tão ignorante.
Corri para lá com uma pressa solitária contra a cidade indolente. Ao meu Posso? devolveu Olha, olha, a mata-esfola. Entrei. Não tenhas medo disto, eu safo-me. Não tenho, menti. Depois rimo-nos e planeámos dias ao sol com todos os E se? arredados.
As horas nos hospitais correm lentas, mesmo naqueles com ambiente zen, e a nossa urgência não ecoa. Ecoa só a avalanche trazendo todos os E se? de que não quero ouvir falar.

Não terei medo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Até já

Vou até ali.
Coincidência feliz, estarei lá longe enquanto durarem as festanças populares cá da terra.
Gosto tanto desta terra quanto abomino feiras, música a condizer, barracas, farturas, churros e carros-de-choque. Pena, mesmo, só tenho de não ver a procissão mais a banda filarmónica a tocar, grave, quando S.Pedro é levado para a benção das embarcações atracadas no cais velho da vila.
Menos a calhar, está a decisão de S. Pedro de mandar abrir a torneira do céu lá para onde vou. Desconfio que me queria por cá.

Ou isso, ou resolveu castigar-me pela soberba. A da questão das feiras e a de achar que Ele sabe de mim.

Boa sorte


Porque trabalhar muito e querer muito não basta quando aquilo que se quer é muito difícil de alcançar. Porque qualquer deslize pode comprometer o desfecho de anos de trabalho dedicado. Boa sorte, miúda!

domingo, 21 de junho de 2009

Fora de tempo


Qual é o momento certo para fazermos as coisas acontecerem? Qual o momento certo para começarmos, acabarmos ou inflectirmos nas nossas vidas? Não sei e não creio que alguma vez venha a saber.
Indiferente, o turbilhão corre contra o erro na contagem do tempo, ignorando que de pouco nos serve. As histórias de amor terminarão todas, sem excepção, demasiado cedo ou demasiado tarde.
Tenho para mim que, apesar de paradoxal, é nas que terminam demasiado cedo que seria possível o foram-felizes-para-sempre.

A ameixa mais doce

Pelas nove da manhã deitei-me à sombra da ameixeira, a ver o azul do céu entre os ramos carregados de ameixas e folhas brilhantes. Passou pouco tempo até que a minha atenção se centrasse na corrida frenética das formigas tronco acima, tronco abaixo, e me lembrasse das histórias que tenho com elas, embora apenas uma se conte com graça na família. Resume-se a um carreiro delas comido por mim aos quatro anos, caçadas uma após outra por um dedito molhado depois de, ao almoço, e para evitar que não terminasse a refeição por ter visto uma formiga a rondar-me o prato, o pai me ter dito "até a podias ter comido, fazem os olhos bonitos". Não recomendo o pitéu, são duma acidez tão inesquecível quanto inenarrável.
Por um dia larguei a minha formiguice e fui cigarra. Vi céu o dia inteiro, entre sol, água, espreguiçadeira e risos. Comi a ameixa mais doce, deitei-me à sombra e adormeci ouvindo isto



Out of the tree of life I just picked me a plum
You came along and everything started to hum
Still it's a real good bet the best is yet to come

The best is yet to come and babe, won't it be fine?
You think you've seen the sun but you ain't seen it shine
(...)

Não a escutei até ao fim mas sei que sim, que o melhor ainda está para vir.

Podias acreditar nisto comigo...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A quem me faz feliz

Nos últimos tempos parece-me que o que mais tenho feito é despedir-me de pessoas de quem gosto. No momento é como se tirassem bocadinhos de dentro de mim, sinto-me esvaziar. Mas depois sereno, já não me desespero. Percebi há já algum tempo, diria anos, que toda a presença é precária, que toda a vida é precária, e que a perda, a mudança ou a transformação têm muito mais chance de ocorrer do que a permanência. Aprendi também a aceitar os outros tal como são e a não esperar deles mais do que lhes é possível dar, desde que assimilei a minha própria inconstância, o turbilhão que são tantas vezes os meus sentimentos e as minhas limitações. Vivo melhor. As lágrimas lavam e o riso dá brilho, aceito-os tão graciosamente quanto vou sendo capaz. Metade do mundo perfeito está encontrado e a outra metade seguir-se-á. O Amor em Paz.



Achei durante muito tempo que não encontraria esse Amor em Paz (que costumava ouvir na voz da Paula Morelenbaum) mas também isso mudou quando percebi que procurava de forma errada. Ocorre-me a história da mulher preguiçosa a quem uma fada promete enviar dez anõezinhos invisíveis para ajudá-la nas tarefas domésticas e que só no final do dia, com a casa toda arrumada sem ter posto a vista em cima dos anões mas confiando que eles lá andavam, percebe que a ajuda esteve sempre na ponta dos próprios braços. Enfio a carapuça, é a mim mesma que devo encontrar antes de mais e assim vou aprendendo a consertar o meu coração.



Gosto deste moço, de quem ouvi numa canção

Sigo o meu caminho
Mas não vou sozinho
Trago esse meu coração que diz
"Amo as estrelas, amo certos olhos
amo a quem me faz feliz"

E porque há quem me faça feliz e esteja de partida, hoje foi dia de festa. Não choro nas despedidas, é desperdício. Ao invés, haja alegria, esteja cada um no seu melhor. Não haverá falta na ausência.

Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

O N voltará e haverá festa no regresso. Porque ele diz, a nosso respeito, eles são malucos mas a família não sabe e eu, moça mais comedida, digo que nada disso, que apenas quando um diz mata já o outro está a esfolar. Mais ou menos como no video aí abaixo. Ah!... e esses copitos da Duvel, flutuam melhor que as flutes. E há um armário cheio de copos alinhados para a prova de natação. Aqueles 24, todos diferentes, da peregrinação às brasseries belges...



Já nós... nunca te tive, não tenho como sentir-te a falta. Explica-me, então, que dor é esta que sinto quando me rio?

Tentações


Levantei-me cedo e cedo fiz aquilo que temia me levasse o dia todo. Depois, o cheiro do café acabado de fazer a encher o ar da cozinha, Amy no ipod mais o seu Frank e o ar fresco da manhã subindo do rio.
Ontem carreguei tudo para casa, faculdade para trás das costas por um dia e uma lista de tarefas razoavelmente ambiciosa a cumprir. Como prémio pelo bom começo do dia espreito as gordas do Público online e demoro-me no P2, levada pela curiosidade que a palavra tentação sempre desperta em mim. Fui ver a que não resistem os nossos chefs, o que lhes desperta a gula, e descubro que o chocolate, as bifanas e o queijo estão no topo do que os tira do sério.
Para mim mandava mandava vir queijo, tinto e um par de olhos, deliciosamente combinados. Ou só os dois últimos, ou só mesmo os últimos, que cumprissem a difícil tarefa de se encontrarem a valer com os que estão aí acima e me colocassem no sério.

Qualq'onde

Um dia comprei um livro só pelo título.

Depois, durante muito tempo, guardei-o e não o quis ler porque adivinhava que nele nenhuma história era como a minha, que aquele título estava ali mal. Apenas o título, nada mais tinha sido escrito para mim. Mas é próprio do espírito humano teimar em desafiar certas certezas, testar se algo resiste ao estrago, arrancar a crosta fresca para a ferida sangrar e, por isso, uma tarde sentei-me a lê-lo, à meia dúzia de historietas ridículas ao pé da minha, a aprofundar cada vez mais a certeza de que apenas a minha história tinha aquele título. Depois disso, com a certeza de que não me merecia, pu-lo num envelope e arrumei-o no sótão.
Hoje fui buscá-lo e talvez o releia. Talvez me reveja nos personagens, tão corriqueira é a minha unicidade.

Há sempre


Há sempre uma janela abrindo-se quando outras se fecham. Uma janela abrindo-se e um pássaro lembrando a Primavera.

Se nos lembrarmos que os trincos também servem para descerrar.

"Tão cedo passa tudo quanto passa"


Os últimos dias não foram diferentes do que pensei que pudessem ser, foram só diferentes do que desejei. Afinal, são tão poucas as coisas que correm como o planeado, quanto mais como o que se deseja, que é sempre a conjugação de tudo o que se acredita ser de melhor.
Ao rodopiar de esperanças sucede a calma. Lembro-me de fazê-lo em criança, de recriar no balde da praia, sem saber, aquele que viria a ser o modelo das minhas emoções: um terço de areia, dois terços de água, mexer bem, com toda a força, gerando um remoinho. Depois observava. Deixava que o remoinho cessasse, a areia assentasse e a água recuperasse a limpidez para fazer tudo de novo.
Já não provoco remoinhos mas sinto-os chegar. Nessas alturas sei o que se seguirá, o turbilhão, a visão turva, a inconstância, como sei que a limpidez voltará. Como hoje, em que ficou tudo claro.

Não acredito no que escrevi. Provoco-os.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

De volta


Esperei-te. Quero que o saibas.

Mesmo que nunca to diga.

domingo, 14 de junho de 2009

Barómetro


São desconfortáveis os dias como estes últimos, em que não senti qualquer urgência em escrever. Mesmo agora não sinto e no entanto aqui estou. Porque o dia está a terminar e não quero que passe sem registo.
Ontem a miúda mais crescida perguntou-me qual era o dom que eu gostaria de ter. Respondi-lhe sem hesitar que gostaria de ser capaz de escrever de forma inspirada. Ser capaz de criar personagens completos, com história e alma. E com vidas que se cruzassem com outras vidas. Ser capaz de escrever de forma contínua e articulada enredos que prendessem a atenção e deixassem vontade de mais. Escrever mais do que estes desabafos que não são mais do que dores de alma ou bolhas de oxigénio que vou deixando para uma emergência, devidamente etiquetados de Alegrias ou Esperança para que os encontre rapidamente. Pedrinhas deixadas no caminho, não como na história dos irmãos levados para a floresta que iam deixando cair migalhas para que pudessem encontrar o caminho de volta, mas para que não me esqueça que há caminhos que não quero voltar a fazer.

Preciso do barómetro apontando Change. Tanto.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Não sei...


... se haveria de gostar dos teus dedos no meu cabelo, percorrendo os caracóis.

Cor de pérola


Tem um vestido que a deixa com ar de menina. Tanto, que mal se reconheceu ao se ver reflectida no espelho do elevador quando saíu de casa de manhã. Ainda era Primavera mas a manhã tinha a tonalidade das manhãs cedo do Verão, em que uma neblina fina paira sobre as águas espelhadas do rio. O dia fez-se quente tal como prometia. Com o pretexto de que o vestido era fresco, atravessou o campus sob o sol abrasador e foi almoçar na esplanada à sombra dos pinheiros, aquela que tinha visto uns dias antes e onde não se tinha sentado porque estava frio e o sol apetecia mais. Comprou o almoço no self-service e sentou-se a gozar a frescura do banco de azulejo atravessando o vestido, que é o mais doce dos três vestidos que tem. Nessa tarde houve quem viesse despedir-se dela.
Quando, no regresso a casa, tomou o elevador, fê-lo na companhia duma menina de vestido cor de pérola. Nunca a tinha visto, parece que é nova lá no prédio.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sal, sol e soldades


Depois houve convívio e muito riso. A tarde foi de preguiça, passada na praia. Areia, corpo salgado de mar e sol, malgré os avisos sobre a radição UV elevada. A que senti ao fim do dia sob a água morna do chuveiro, à noite contra os lençóis e hoje, ainda, sob a t-shirt.
Sei que é burrice e que não é para repetir mas, tra me e me, soube-me bem, teve o sabor da adolescência - quando o começo das férias era marcado pelo primeiro escaldão do verão.

Sim, sei, penitentiate, ha fatto male: sol, sal e vento são bons para seca do bacalhau. Mas tinha soldades como dizia o mano quando era pequeno...

Não são como divãs


Estive lá com a miúda mais pequena, que foi campeã dos achados mais estranhos: um lava-loiças, vários garrafões, quatro grades cheias de garrafas de vinho, tudo vazio claro está, e uma arca de madeira (sem tesouro). Tudo nas dunas, à beira mar. A praia estava pejada de caixas de esferovite, invólucros de bastonetes luminosos e restos de fio de pesca e anzóis deixados pelos pescadores, prontos a fisgar um calcanhar azarado. E garrafas de plástico às centenas. Fico-me por aqui na descrição, quem já foi à praia, a uma praia qualquer, sabe o que lá há.
Numa manhã, um grupo de várias dezenas de voluntários varreu a praia numa distância de 1,5 Km e apanhou lixo que deu para encher um camião.
Acho difícil não se gostar do mar, da praia, da areia dourada, dos tons de azul e verde do céu e do mar. Da brisa, do cheiro da maresia, do som do rebentamento das ondas, das dunas, das conchas, do sol na pele. E depois há estas coisas, que roçam o incompreensível - não se cuidar daquilo de que se gosta. É que quem suja é quem lá vai. Gente que vai à praia porque gosta. Têm razão os que dizem que a estupidez é um tema inesgotável - é que não tem limite.

Mas havia crianças a limpar a praia, muitas. E por isso, também, esperança.

Talento


Depois disto não voltarei a olhar para ela da mesma forma. Cresceu. Tem 16 anos feitos há pouco e este trabalho é dela. É minha sobrinha e eu estou felicíssima por descobrir a pessoa em que se está a tornar.

Desconfio que mais dia menos dia passaremos a vê-la nos outdoors.

Somatotrofina, a falta que tu fazes!


Acredito pouco em pessoas de quereres condicionais e vontades adiadas. Ou se quer ou se não quer. Quando alguém nos diz que não sabe se quer é porque não quer. Ou porque está à espera de ver como pode ganhar mais, ou perder menos ou ainda, como se fosse possível, ('tadinhos, são bambis, ainda não sabem que não é possível) ter o melhor de dois mundos.
A relação que estas pessoas geralmente têm com o fazer é outra coisa que cada vez mais me incomoda, o que faz com que as relegue para um plano pouco respeitoso. Pela utilização frequente do Eu até que queria mas não posso por causa de ou do ou da. É que isto, dito assim, soa a proibição, soa a gente que é mandada, que não tem voz na matéria que lhe mais diz respeito - as suas acções. Tenho francamente mais respeito, corrijo, tenho todo o respeito, pelas pessoas que dizem: eu gostaria de fazê-lo mas escolho não fazer (porque assumo limitações ou porque tenho outras prioridades). A diferença é, tão só, toda. Como a diferença que existe entre a horizontalidade e a verticalidade.
Os outros são casos tristes, com recuperação sine die. Gente que, decididamente, não quer crescer.

Anjinhos destes? A descartar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Irei, um dia.


Não tenho planos grandiosos a curto, médio ou a longo prazo e isso por vezes entristece-me. Nessas alturas acende-se aquela vontade de partir, de deixar tudo para trás. Chegar a um porto novo, queimar os navios e obrigar-me a uma vida nova.
Depois sei que seria igual, que não é uma questão de paisagem nem o pertencer a um lugar. Não adianta se do que se precisa não é de mudar de ares mas de um coração novo.

Sei disto e foi do que me lembrei quando dei por mim e verificar, ponto por ponto, que cumpria os requisitos enumerados num anúncio que encontrei numa newsletter que recebo e se dedica à divulgação de emprego científico. Era na Austrália.

Outra coisa que sei é que não é a grandiosidade dos planos que me faz feliz. É o quão bem faço aquilo a que me dedico, por insignificante que seja, mas que acrescenta brilho aos olhos daqueles que amo.

Ainda assim, receio que um dia vá mesmo.

domingo, 7 de junho de 2009

Não m'espanto


mas m'avergonho dos números da abstenção.
As minhas adolescentes não compreendem como pode ser tão mal cuidado um direito que custou tantas vidas a conquistar. Ouvi-lhes a indignação e os relatos da luta pelo direito ao voto por parte das mulheres. Ouvi-as calada. Não soube explicar-lhes porquê, não encontro argumentos válidos para justificar este baixar de braços. Sendo um direito de cada um, não me parece que isto seja realmente exercício consciente de um direito, parece-me demissão. Aflige-me o exemplo que estes pais, os que o forem, dão aos filhos - a geração que nos governará dentro de vinte anos ou menos. Depois falámos de liberdade e da responsabilidade que lhe está associada e sem a qual a dita liberdade é pouco mais do que uma miragem. Porque quando não sabemos o que queremos nem para onde queremos ir, surgirá sempre alguém que o decidirá por nós. E não se iludam, meninos e meninas, que não será um príncipe bondoso e valente montado num cavalo branco como nos contos de fadas, há-de ser alguém com um cajado a distribuir bordoada pelos lombos.
Pergunto onde estiveram hoje e o que fizeram os milhões de descontentes. Acho que no sofá ou no Algarve a gozar uma mega ponte, porque a crise é intermitente. Cada vez mais tenho vergonha do povo apático, ignorante e de memória curta que somos.

sábado, 6 de junho de 2009

Lebre por gato


Quando chegou o dia das crianças terem um um animal de estimação soube imediatamente que a coelha seria uma espécie de terceira filha. Ou seja, quem zela por que haja cama, mesa e roupa lavada (leia-se feno na gaiola em regime aberto, comida e água fresca) sou eu.
Ontem, na montra da loja dos animais, estava uma gaiola enorme onde uma meia dúzia de coelhinhos ternurentos e lanzudos pulavam de um lado para outro. Em frente, as pessoas demoravam-se a observá-los. Em particular, um pequenito duns quatro anos, estava completamentente rendido. Tanto derretia com uns Ohhh... quando algum se aninhava, como dava pulos de excitação quando outro dava um pinote. A mãe, num entusiasmo igual ao do petiz, pergunta-lhe queres um, queres? E, sem dar tempo que este lhe respondesse, vira-se para o marido e diz Podemos? Podemos comprar-lhe um gatinho destes?

Pois... ando por sítios mal frequentados.

Todas por uma



Fui buscá-la a meio da tarde. Veio receber-me a meio da escadas, sorridente, e abraçou-me logo ali. Poucas coisas me emocionam tanto ou me fazem mais feliz do que a alegria com que as minhas filhas me recebem diariamente. Isso e o "mamã, tive tantas saudades tuas...", ao que acrescentou antes mesmo de chegarmos lá a cima: "Já sei as notas, são dois dezoitos, dois dezanoves e um vinte. É bom mas não chega para o que eu quero...". Sem desfazer o sorriso lançou "Levas-me à festa? Hoje é dia de festa, acabaram as aulas, combinámos um churrasco na garagem do David...". Levei-a, claro. Pelo caminho pediu que a fossem buscar cedo, que sábado é dia de estudo para aquele bocadinho que ainda falta.
É com este moço a cantar que o dia vai arrancar de manhã nesta casa. Música, sol mesmo que chova e muita, mesmo muita, boa disposição. Porque o sorriso instalado é a melhor base para o trabalho produtivo. É que a miúda mais crescida tem tanto, mas tanto, que estudar...

E eu, tanto que aprender sobre determinação.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Com Troll


Creio que está na nossa natureza, mais limitada pelo medo do que movida pela esperança, por via de reduzirmos o mal que nos possa acontecer e de aumentar o proveito que possamos tirar das situações, tentar ter controle sobre o que nos rodeia. Os cérebros mais analíticos constroem modelos que exprimem o desfecho em função de um conjunto de variáveis que se presumem completamente controladas. O que sobra, a diferença entre o que o modelo vai prevendo e os desfechos que se vão sucedendo, é o mal amado erro. Vamos na senda do melhor modelo, daquele que cumpre o seu desígnio de preditor acurado, que não comete erros, que pouco deixa nas mãos do acaso.

No desejo do conhecimento antecipado do desfecho e da eliminação da possibilidade de erro, substituimos a esperança por expectativa e saímo-nos, a maioria das vezes, mal.

Pois... acreditar que é possível controlar tudo é coisa de troll.
Ah! Outra coisa: cérebros analíticos e modelo são fruto de deformação profissional. Substituam-se por Chicos espertos e esquema, trama ou ardil, respectivamente, e fica a ideia universal apesar de dar tudo mais ou menos no mesmo - o tiro no pé. Ou os burros n'água, já que não há duas sem três e já havia burros em dois posts recentes.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Grátis, mesmo grátis.


Acordei assim por dentro. Sem pressa, dei comigo a sorrir à coelha, ao vaso da salsa, às nuvens cinzentas sobre o rio, e a pensar como gosto das manhãs frescas. À minha volta tudo parece igual a ontem, nem um motivo mais, nem um menos, para este entusiasmo. 

Já passa das três da tarde e o ribombar continua. E se for uma crise cardíaca e não alegria de viver, assim, só porque sim?

Porquê a dificuldade em acreditar nas coisas simples?

Asinus asinum fricat.


Não tenho como definir felicidade. Sei senti-la. E a dos meus dias de hoje é diferente e é bem melhor, mesmo sendo intermitente, do que a do passado, em que coloquei nos ombros de outro essa tarefa. Encarregou-se a vida de me mostrar que isso é pobreza de espírito e que dificilmente alguém se sentirá feliz tendo a obrigação de fazer a felicidade de outrem. Mostrou-me também que, mais dia menos dia, tal como um animal atordoado pelo excesso de carga, o entusiasmo do outro colapsa e passa a viver num martírio ou recusa-se a avançar, dá um pinote, joga tudo pelos ares e depois é um Deus-me-acuda.
Não advogo o salve-se quem puder, o aproveitamento egoísta do bem que nos querem, nem o pular de cerca impulsivo só porque o verde do outro lado parece mais vibrante. Digo apenas que a felicidade e a busca por ela são assuntos pessoais e intransmissíveis, cuide cada um da sua, que o que vem do outro é complemento, é a cereja sobre o (nosso) bolo. 
Estou convicta que as pessoas que são felizes juntas, verdadeiramente felizes, são aquelas em que ambos também seriam felizes sozinhos. Que estão juntos porque querem e não porque precisam. Compete a cada um saber ver a diferença.

A felicidade não é indigesta nem pode pesar na consciência. Isso é desculpa. Mas, como diz o povo, albarde-se o burro à vontade do dono. Ou isso ou asinus asinum fricat.

Ou ainda... cada um se deita na cama que faz. 

Proibi-me o lamento.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O melhor do mundo


Gente feliz tem lágrimas.
Ouvi uma história de amor enquanto rodava nas mãos um copo com o Syrah da Casa Ermelinda Freitas, o tal premiado em prova cega que fez dele o melhor do mundo. Caíram-me as lágrimas. Não sei se pela felicidade daquela história, se pela ausência da minha. Na dúvida, atribuí-a ao tinto que é, de facto, de ir às lágrimas.

Às vezes tenho de ser assim, bruta. Ou não produziria lágrimas à velocidade que consigo gastá-las quando me contam histórias de amor.

Nota bene


Não saboreies as primeiras de forma displicente apenas por achares que ainda muitas te aguardam. Cada uma é única e especial e não são as últimas apreciadas à exaustão que te farão recuperar o que desperdiçaste.

A ti - sim, é consigo - deixa-me recordar-te que uma taça meio vazia é, também, uma taça meio cheia. E que cada um de nós pode muito mais do que imagina. Ai se pode!
Há, até, quem o tenha aprendido na escola...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Não esperes nada de mim


Não esperes nada de mim. 
Não tenho regaço, não sei que fiz do colo nem dos braços que te aguardavam, não sei onde os deixei. Não preciso deles, já não te espero. Como não te encontrarei se te vir. Não to tinha dito ainda mas por vezes tento recordar-te e já não consigo.

Não esperes nada de mim, não me esperes. Não saberia reconhecer-te.

Obrigada, Tempo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Fim da linha


O mil folhas, como chamei à tarefa a que me propus este semestre, pelos meus alunos e por mim também, terminou ontem. Tal como lhes e me prometi, construí um texto que os guiasse pelos assuntos que decidi abordar. Persegui o objectivo como um cão de fila, não "pendurei" na web um único capítulo com minutos de atraso, sequer, no intervalo entre a aula teórica e a aula prática. Cumpri escrupulosamente a minha parte.
Hoje dei a última aula. Presentes no início, apenas duas alunas dos 22 alunos inscritos. Dois pares de olhos que só por breves instantes consigo que fixem os meus. 
Dei o melhor de mim, nunca tinha trabalhado tanto nem com tanta dedicação. Está tudo aqui. Os textos de apoio, os exercícios, as soluções, os scripts dos programas que fiz. 

O semestre está no fim e sinto uma espécie de vácuo, de depressão pós-parto, de um eventual nado morto. 

Apetece-me chorar e acho que é isso mesmo que vou fazer. É que se ao menos tivessem aprendido que não se desiste assim, sem mais nem menos...

Recado


Este blogue é de Paz, da minha busca por ela.

Todos os visitantes são bem vindos. Se o que escrevo entretiver alguém, fico contente. Se o fizer soltar um sorriso, tanto melhor. E melhor ainda se sentir que não está só lutando contra dificuldades, dúvidas e angústias ao mesmo tempo que procura o caminho e os meios para se tornar em quem quer ser. Percebi que registar as coisas boas, os pensamentos positivos e os objectivos me faz um bem imenso, por isso estão aqui tantas Alegrias, Crescer, Coisas simples, Confissões, Esperança e Pensamentos.

Como visitante mais assídua deste blogue recomendo-me a leitura deste post. Para que não me desvie do propósito com que o comecei e que mudando, não mude para pior.

É que desconfio que a minha capacidade para a arrogância excede em muito a minha humildade.