quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Espelho meu, espelho meu

Tenho dias assim, dum cepticismo que só serve para me magoar, em que digo que ninguém ama ninguém, amam as mães os filhos e mais nada.
É mentira.
Andava por aí o pensamento, culpem-se as hormonas pelo exagero, quando me lembrei da justificação que recebi quando disse, na aula de grupo, que fazia falta uma parede de espelho na sala de exercício. Faz parte do conceito da marca, respondeu-me, quisémos pôr mas não pudemos. As pessoas vêm sobretudo para perderem peso e não gostam de se ver. Fiquei de queixo à banda, discordei, argumentei que fazia falta não só para que pudessemos corrigir a postura mas também pelo efeito anímico. Vai ao ginásio quem quer, para se sentir bem, e se há coisas que podem ser contagiantes numa aula de grupo são a alegria, o bem estar e o sorriso.
E é precisamente o sorriso, o nosso para nós mesmos, que nos faz tanta falta e nos faz tanto bem. É ingrediente essencial duma tarefa árdua que é amarmo-nos, a nós próprios, aceitarmos de nós o que não podemos mudar e dedicarmo-nos a melhorar aquilo que é possível - que é, precisamente, o que aquele grupo de pessoas está ali a fazer.
Há coisas que não entendo. Este "conceito" é só mais uma entre tantas...

E sim, haverá alguém que nos ache perfeitos.
Nem que seja a nossa mãezinha, nos dias em que está bem disposta.

Não colho flores


Não colho flores mas a garganta apertava-se-me de emoção quando me trazias jarros. Não por serem belos, tampouco por terem a minha predilecção, mas porque te imaginava colhendo-os pensando em mim.
Não colho flores, não tenho flores em jarras. Essa beleza não me pertence, não a quero fechada entre as minhas paredes. Nem essa nem a tua, que se sente presa mesmo com a porta aberta e as janelas rasgadas sobre o rio.
Liberdade e mobilidade não são a mesma coisa. E a tua, tal como a das flores, passa por ficares junto à terra.

E eu... eu não colho flores.

Acordei com vontade de fazer arrumações e, ainda mais, de deitar coisas fora. Estou farta de coisas, enchem-se de pó e a sua inutilidade ocupa-me e entristece-me. Guardo memórias, não fossemos nós senão o somatório do que já vivemos. Resgatei esta, escrevinhada algures.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pump it up!


Olha, já que ultimamente te tenho pegado na mão, reparei, tens as mãos ásperas. Não por cima, mas na palma, tá a precisar de creme.
Foi como pisar um pico, doeu-me logo. Doeu-me o tom de censura, não o reparo, não o facto. Lavo muito as mãos, atalhei seca. Fazes muita lida. Faço. E lavo muito as mãos entre o que faço e entre o tira e põe a luva de borracha. Recolhi a mão, Não quero que te arranhes... Não reagiu particularmente e continuou sabe... a menina é muito formiguinha, muito Cinderela (devia querer dizer Gata borralheira mas enfim), devia arranjar quem lhe fizesse as coisas em casa e dar a roupa a passar, é barato, por 30 ou 40 euros passam-lhe a roupa de dois meses. Foi nesta altura que me deu vontade de rir, dizer desce à Terra. Mas não. Encontrámo-nos para almoçar, para me distrair, desanuviar, mais nada. Tenho realmente mais que fazer e, educar para a realidade, apetece-me fazê-lo quando se trata das minhas filhas. Apenas lhe sorri, chutei da irritação o que consegui, dei-lhe o braço que é macio e ainda está bonito, dourado do sol dos meus dias de cigarra e disse: que tal acompanhar a menina até ali acima? A Gata Borralheira foi convidada para uma vernissage amanhã, vai ter de ir de sapatos, vai comprar uns. Subimos. A foto não faz justiça. São giríssimos, assentam que nem uma luva e têm tudo a ver comigo. Quem é mulher entende, um parzito de sapatos acalma. Ou não. À despedida deitei-lhe O trabalho não faz as pessoas piores, sabe? Não, não faz. Faz só as mãos piores, disse-me a rir, satisfeito com a graçola. Ah!... E onde é a vernissage? Cascais. E vai sózinha? Não. Deve ir gira, e eu que não vou vê-la... Pois é, não vai ver, que pena...

E eu, que acho que o que nos distingue é o carácter que revelamos e não os carats que possuímos, dei o meu tempo por mal empregue, a menos da descoberta do belo par de pumps que me ofertei.
É que há dias em que pessoas de bom senso descarrilam e se portam como se não tivessem dois dedos de testa. E irrita-me que amigos meus, pessoas de que gosto tanto, tenham saídas destas. Fúteis e insensíveis.
Ou tenho razão, ou ando hipersensível, ou passa-se outra coisa qualquer.

domingo, 20 de setembro de 2009

Alívio

Descobri que não sou só eu...


sábado, 19 de setembro de 2009

Será que os há?


Trago comigo, desde há dias, um aperto no peito, daqueles que se sentem na garganta e não deixam que a voz saia límpida quando falamos.
Não gosto disto, do coração, a garganta e os olhos todos ligados, de forma que ao se apertarem os dois primeiros pingam os terceiros. Chateia-me, pelo ar de tonta que me dá, que se calhar é o verdadeiro, mas que não gosto que se note tanto. E assim fiquei, mais do que já tenho andado, quando há pouco dei com uma frase d'O Rio Triste de Fernando Namora, a propósito da distância de casa:
"Ia-se (...) para nos sentirmos num lar. As pensões e as "repúblicas" de estudantes é que nunca poderiam fingir que o eram, não há lares sem mulheres".

Isto e ainda nem se foi, a miúda...
Isto e nem sei se é por ela.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DIY ou o poder do não


O "não, obrigada, não é preciso, eu faço sózinha" sai-me com uma facilidade espantosa. É daquelas frases alojadas nas amígdalas que saltam sem passar pelo cérebro. Digo-o logo, sem tentar sequer colocar-me no lugar de quem oferece de boa vontade, digo não e pronto. Família e amigos ofendidos já me disseram, carinhosamente (ou não), não sejas assim, não conseguimos chegar a ti, não nos aceitas para o que é próprio do Amor, que é a partilha das dificuldades. Nessas alturas reconheço, sorrio e digo que têm razão, que mudarei.
Tento.
Tentei há dias, quando me levantei e me deparei com a máquina de lavar roupa com o programa terminado e a cuba cheia de água. Não carece inscrição na Ordem dos Engenheiros para se ser capaz do diagnóstico: bomba da água entupida. Sei como se faz, desmontar e montar devidamente trecos desses passo a passo, a menos do mais elementar: ter força suficiente para abrir o diabo da tampa. Não tenho. E eis que vi no caso uma oportunidade e liguei, mão estendida aberta, desta vez para receber ajuda. Do outro lado isso é fácil, fazes tu ou chama o técnico e se não conseguires mesmo ou ele não puder diz, que nesse caso vou aí. Encaixei, chamei-me asna, furiosa, por ter dado parte de fraca e pus-me ao trabalho. Drenei a máquina o mais que pude, haja paciência para vazar oito litros de água à velocidade do soro a entrar na veia. Depois foi a vez da tampa da bomba, mais fechada que uma noz. Perdi a conta às tentativas para rodá-la e ela imóvel. Insisti, insisti, esfolei os nós dos dedos, voltei a insistir. Acabou por ceder e foi a vez da água espalhar-se pela cozinha. Ri-me sem o desespero da mulher do anúncio do calgon, mas antes com o gosto próprio de quem levou a melhor, apanhar água do chão é canja. Desobstruí a ventoínha, fechei tudo e liguei a máquina. Funcionou, claro.
Quando a ajuda chegou tive de respirar fundo. Apeteceu-me um já não é preciso magoado mas respirei fundo e disse: ainda bem que pudeste vir, preciso de ajuda para desmontar o rodapé dos armários da cozinha e limpar lá por baixo. Uma daquelas coisas simples, mesmo muito fáceis de fazer, mesmo muito chatas, mas que se fazem muito bem em boa companhia.

Quanto à tampa da bomba, estamos entendidas eu e ela: agora está fechada pelo meu pulso, será aberta pelo meu pulso. E DoItMyself. É que ouvir nãos e ficar como se nada tivesse sido... ainda não cheguei lá.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

desEncanto


Tenho saudades tuas de forma intermitente, já não me lembro de ti todos os dias, e as saudades, não sei se são do que te conheço se do que imaginei que pudesses ser. Que importa? Afinal, como me disseste, o encanto está em não se conhecer.

Talvez te console imaginares-me e eu talvez te esqueça em breve.

domingo, 6 de setembro de 2009

GAvante!


Hoje acho que os concertos das bandas de que gosto podiam ser todos ali, do outro lado da baía, onde fazem há já uma data de anos aquela festa de que dizem não haver outra como aquela.
Todos os anos por esta altura o trânsito aqui fica caótico, há barulho, acampamentos, ruas cortadas e a música do partido, estridente, a sair de megafones encarrapitados nas carrinhas. E eu desespero, praguejo, digo para-o-ano-meto-férias-e-ninguém-me-apanha-por-cá. Depois esqueço-me, fico e acabo por sorrir deliciada pelo magnífico fogo-de-artifício com que a festa é encerrada. Aquele que mais uma vez se repete enquanto escrevo estas palavras.
Este ano respirei fundo, praguejei só metade do habitual e comprei EP's às miúdas na delegação do partido, catada na internet, e que afinal é mesmo aqui em frente, só com a baía pelo meio. Um espaço pequeno e sombrio com uma secretária velha entalada sob o vão da escada, três cadeiras e três homens de meia idade falando baixo que se calaram quando entrei. Meia idade, digo eu, porque me pareceram ter uma vez e meia a minha e isso, legalmente, é menos que a idade seguinte, que é a terceira, dizem. Adiante. Que sei eu de idades? Parece que a verdadeira está lá dentro de cada um, que o corpo só engana.
Quebrei o silêncio. Boa tarde - boa tarde. Duas épês, se faz favor. Trinta e oito euros, não é? Já vi que não há multibanco, pois não? Há sim, é já ali na esquina, menina.
Desarmei. Sorri encantada com a forma genuinamente prestável como me respondeu. Acho que tenho que chegue, ou quase, vejamos. Tinha, sobraram-me uns cêntimos. Numa folha quadriculada, de margens estreitas e sem deixar linhas de intervalo, escreveu 2 e depois, 38,00. Em seguida abriu a gaveta, guardou em montes separados as notas de dez e de cinco, abriu a lata das moedas, guardou-as e tornou a fechar a lata. Tirou dois ingressos e estendeu-mos com um Obrigado. Retribuí e saí para o calor da tarde a pensar que deveria ter ido ao multibanco, que talvez... mas não, não gosto de ajuntamentos. Acho...

O moço da foto foi o que ouvi esta noite, à distância, sem que o ruído me ferisse. Daqui. De onde vi a Atalaia iluminada e as luzes da cidade, vibrando, a perder de vista. A partir de amanhã, nas noites, o verde palco da festa voltará a ser como sempre, uma mancha negra dormindo na paisagem iluminada. Apenas uma luz, vermelha, no cimo da torre metálica onde vive hasteada todo o ano a bandeira do partido, marcará a sua existência. E eu voltarei à minha paz, ao meu amado silêncio na paisagem.

O G lá de cima tem história. Deliciosa. E contar-se-á a pedido.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vale a pena ficar de olho nesse bloque

O Edu, o homem do Terra Ruim, presenteou-me com este selo. Agradeço-lhe comovida. Acho que tenho uns quatro leitores mais ou menos assíduos. Tirando eu e minha mana, sobram dois que lêem por razões neutras, já que eu me releio por necessidade e a minha irmã porque me ama.
Adiante.
Gosto de terra. Gosto da terra. Muito. Da terra fértil como da árida. Porque lhe encontro tantas semelhanças com o que continuo a achar ser o melhor de tudo: as pessoas.
Quanto ao Edu, não sei porque se chama Terra Ruim o seu blogue. Se fosse meu e eu o tivesse chamado assim, seria por sentir ser eu essa terra, por tantas vezes não dar em fruto a semente. Por receber e não dar, por saber e não ensinar, por ser cuidada e não cuidar. Mas isto sou eu, que tanto escrevo para me livrar do que me dói como para que a memória não me traia e apague as coisas boas. Mas isto é conversa e afasto-me do proposto. Devo deixar um link para quem me nomeou e indicar 10 blogues que ache de devam ser mantidos debaixo de olho.

1- Terra Ruim - porque o moço não só escreve mesmo bem como gosta da sua terra. Muito. Que é a única maneira de se gostar.
2-
3-
4-
5-
6-
7-
8-
9-
10-

Prometo ir preenchendo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ano Novo


Desde que me lembro de haver um dia no ano com significado de começo, tal dia sempre foi por esta altura - Setembro.
E assim foi desta feita, entrei hoje num ano que não é o mesmo do dia de ontem. Planos? Muitos. Muita vontade também, de fazer e ser melhor que se resume em ser mais simples, mais organizada, menos preguiçosa.
Teoria.
Como sempre, teoria. Há coisas que mudam devagar, haja paciência. A mim calhou ter a mania das teorias, o que é pena já que há coisas tão melhores.
Talvez deva dizer a verdade e confessar que vim aqui porque é dia 1 de Setembro, porque hoje entrei oficialmente em sabática. Porque tenho medo de desperdiçar um ano com tolices e não produzir algo de jeito. De forma que comecei bem, trabalhei dedicadamente e vim cá marcar o ponto para que mais tarde possa provar que comecei no dia um. Está feito.
Agora o que trago comigo e me faz feliz.
O Verão foi bom e eu fui boa comigo. Dei-me tempo, concedi-me descanso. Desliguei o computador, ignorei a agenda. Dormi.
Com água do mar lavei alma e coração e o sol aqueceu-me o peito como já não o sentia havia tanto.
Nós.
Abrimos os braços, respirámos fundo, treinámos a tolerância. De volta recebemos mais do mesmo. Rimo-nos do que tanta vez nos fez zangar e concordámos que há muito mais a unir-nos do que a separar-nos. Temos, agora, uma bicicleta de dois lugares. Pedalaremos ora tu, ora eu, ambas de preferência. O lugar é garantido.
Bom Ano Novo, mana!