quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desejo-vos um 2010 sorridente porque...


Mas, pelo sim pelo não, esforcem-se por conseguir aquilo que desejam, ok?

Está a ser assim...


... a minha última tarde de 2009 - a fazer algo de que gosto para quem gosto.
E para ilustrá-lo, nada melhor que esta moça, que é da mesma colheita que eu, e com quem partilho uma crença: a de que é francamente possível a convivência com um homem desde que cada um tenha a sua casa-de-banho.

E volto para junto do meu forno, onde doura um lombo recheado com ameixas e farinheira. Enquanto isso, vou tratar das cebolinhas para caramelizar. Até já. Ou até para o ano.

2010 - My wish list


Se quero que seja bom? Sim, claro. Isso e que todos tenham saúde e que nada de essencial falte.
Mas o que eu quero mesmo, mesmo, mesmo, é capacidade. Capacidade temperada com um pouco mais de sabedoria. Capacidade para enfrentar o que vier, para mudar o que achar que é preciso. Sabedoria para aceitar o imutável, para fazer escolhas sensatas e ser feliz com o que tiver.

E é só.

Sim, é muito, eu sei.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O charme indiscreto da freguesia


Não há empregado de loja, de café, padeiro, peixeiro ou jornaleiro que tenha um charme que chegue, sequer, aos calcanhares do charme dos homens do talho.
Como não há cliente que se derreta como derrete a cliente do açougue suburbano. Não é de hoje que me entretenho a observar estas cenas enquanto espero pela minha vez para ser atendida. Como os tempos de espera são em geral longos, depois de ter escolhido o que quero levar, coloco-me em escuta e deleito-me com as conversas. Elas são simpáticas na esperança de saírem de lá bem aviadas, com a melhor carne. Acho que lhes sai naturalmente, é o instinto maternal, a biologia a puxá-las à protecção do clã, que querem bem nutrido. E eles, que a isto sentem o cheiro, atendem-nas com desvelo exagerado. E chamam-lhes menina, coisa que não são há dezenas de anos e de quilos, enquanto cortam com voz macia bifinhos que na frigideira se tornarão mais rijos que sola. Estava embalada nisto quando chamaram o 8. Em troca da senha recebi um sorriso e, também, um Diga menina. Apontei para uma peça de carne no balcão e disse Corte para assar, por favor.
Deve ter-me tomado por inábil na cozinha e devolveu-me um simpático A menina deve querer fatias que saiam direitinhas, leve antes desta peça, ao que retorqui Quero daquela mesmo, é mais tenra e menos seca. E segui pedindo bifes da mesma peça, pequenos, cortados grossos. Foi aí que sorriu a la Clark Gable e me lançou com ar malandreco Estou a ver que a menina gosta de carne... percebe disto, percebe...
Deu-me vontade de rir e pensei cá comigo que dali, do que gosto mesmo é das facas bem afiadas. Lembrei-me do meu olhar curioso, há muitos anos atrás, frente à montra da Policarpo, na Baixa, no tempo em que não distinguia uma faca de desossar duma vulgar faca de talho mas já me pareciam todas bem mais interessantes que as facas toscas lá de casa. Acho que vou até lá, um destes dias, para ofertar-me um conjuntito de tais facas, que cortam que nem um bisturi e farão com que operações como a que fiz no natal (em que desossei um peru para rechear), não só me saiam na perfeição, como permitirão que o charme do homem do talho não se desperdice avec moi e vá todo, direitinho, para o resto das meninas da freguesia.

Cá em casa me entreterei, depois, a cortar os bifes como eu gosto.

E-ner-gi-aaaaa!


Acordei tão, mas tão, bem disposta que acho que será desta que farei com um sorriso nos lábios e de forma diligente uma série de coisas chatas que tenho vindo a adiar. Isso e livrar-me de coisas de que não preciso e, porque não, dalgumas outras que quero que deixem de me fazer falta. Apetece-me desafogar a casa, a vista, a vida. Para que esta última seja mais simples e, por isso mesmo, mais apreciável.
Há em mim, bem cá dentro, um fervilhar. De vontade.

Sou feliz agora, sem ter alcançado tanto do que um dia julguei ser essencial. E eu, tola, que cheguei a pensar que este dia não chegaria!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Vade retro!


Se há coisa de que não gosto mesmo é de sentir saudades.
Saudades não são recordações doces. Ter saudades é sentir falta, é não estarmos inteiros. É termos a cabeça e o peito noutro lado e no lugar deles um vazio difícil de preencher.
Detesto sentir saudades. Fico à toa, sem saber o que fazer com a falta desses dois, meus mais-que-tudo, cérebro e coração. Que há para além de pensar e sentir por inteiro?

Por isso, antes que ataquem, estou a ver se me ponho en garde.

Vai lá, vai


... sim, vai que tens de ir.

Vou lá dentro procurar uma receitinha de doce, sim? Há que fazer algo com a abóbora.

domingo, 27 de dezembro de 2009

2009


Têm passado lentamente estes últimos dias do ano. O ar frio e húmido faz com que apeteçam ainda mais a casa aquecida, a luz suave das velas e o sossego.
Sabe-me bem que o ano esteja a terminar. Sinto que está na altura de fazer um balanço, renovar energias e perspectivar. Tenho vindo a rever 2009 e estou contente, foi o melhor dos últimos anos. Não porque tenha sido fácil nem porque não tenham existido contrariedades, tristezas ou reveses. Bom porque todos foram enfrentados, porque cada dificuldade se tornou numa oportunidade. Bom porque os momentos que passei só, e que foram muitos, evoluíram da solidão triste para momentos em que estive na melhor das companhias - a minha. Bom porque passei a gostar de uma forma diferente dos que me são próximos, de uma forma que é, descobri, gostar mais. Porque espero deles muito menos, porque neles projecto muito menos as minhas faltas e as minhas necessidades. Gosto deles porque gosto, pelo que são e não pelo que fazem por mim. Bom pelo sorriso que se instalou e que agora nasce do peito e me deixa com a certeza que toda a tempestade é seguida de bonança. Bom porque me rio do meu mau humor, porque cada vez que praguejo (e sei fazê-lo tão bem) acabo escangalhada de riso ao ouvir tanto disparate. Bom porque aprendi a relativizar. Um bocadinho mais. Bom porque querer e fazer andaram de mãos dadas comigo.
Bom, sobretudo, porque a minha família esteve presente e unida. Incondicionalmente.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Isto não vai lá nem com um desenho, pois não?


Psssst!, Chega-te cá. Sim, é contigo mesmo (ou não). Agora escolhe: abre bem os ouvidos ou read my lips - enquanto lidares comigo como lidas com os "gajos" teus amigos, nunca te verei como um homem digno de tal nome, OK?

Pai Natal, ilumine estes idiotas ou tire-os do meu caminho. Sim?

A quem não esqueci

Que recordas de quem passou pela tua vida?
O que me ensinaram.
Foi o que respondi sem hesitar. À medida que o tempo passa vou-me tornando melhor ouvinte e dou por mim a dizer Conta-me histórias, tuas ou não, fala-me do que não sei. Depois é fechar os olhos e viajar, ficar tão perto dos personagens que lhes sinto a respiração. Visto-lhes a pele, calço-lhes os sapatos e vejo a vida por esses olhos que não são os meus. E sou isso mesmo, um pouco de todos aqueles que me ensinaram algo e que por isso, de forma consciente ou não, estarão sempre comigo.
Sei o que me encanta, é aprender. E é por ser tão, tão grande esta vontade que haverá tanto e tanta gente que me encantará. Sempre. Gente de quem somarei infinitos pequenos pedaços que farão de mim, quem sabe, uma espécie de integral de Riemann...

Falo cada vez menos, oiço e sorrio cada vez mais. O tempo que tenho não é para gastar espalhando ignorância. Isso faço-o aqui, onde me lêem os amigos e me são desculpados os devaneios.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sei que é tempo de parar


... quando meto os pés pelas mãos e deixo de conseguir fazer tudo tão bem como quero, como gosto e como penso que tanto eu como os outros merecemos.
Dizer sim a todas as solicitações, cometer atropelos de agenda e querer estar em dois lados ao mesmo tempo, porque nos dois lados há coisas que quero fazer e pessoas com quem quero estar, não é, de todo, uma atitude inteligente.
Vou fechar para balanço. Amanhã é outro dia.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Porque eu mereço

... uma mala de mão onde caibam o Eee PC, a minha tralha toda e as teses que parecem não querer descolar de mim, esta menina teve de vir comigo.

É no que dá convidarem-me para arguir teses em escolas longe da minha, em sítios onde apetece ir às compras...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Que queres?


Que queres que te diga sobre o risco, senão que me apetece pisá-lo?

Mas se me queres ouvir sobre Teoria do Risco, terás de esperar pelo segundo semestre do próximo ano. Sim? É que este, é de sabática. Ano de pisar o risco, de descobrir. De ver (ainda mais) para além do muro e não de reescrever histórias antigas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ASAP

... estarei de volta. Mas para já tenho de ir até ali.

Os últimos dias passaram a correr, tal foi o amontoado de coisas para fazer. Enervantes, exigentes, rigorosas, com prazos apertados e sem margem para erro. Para dizer a verdade... gosto!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Ai mulher!


Tem calma. Olha bem à tua volta. Depois olha para ti. Para dentro e para fora. Depois, levanta as mãozinhas. Sim, levanta-as. Isso, em direcção ao céu... Agora agradece.
E pára de pensar que o verde é mais vibrante dentro da cerca dos outros, ok?
É que se ao menos te desses conta que a tua cerca... Qual cerca?
Tonta!

Pode ser que quê?


Por muito que me apetecesse deixar-me ficar no conforto do sofá seguindo com o olhar as acrobacias das gaivotas no céu cinzento, resolvi levantar-me e deitar mãos ao que tenho para fazer.
Pode ser que me titilem os modelos de previsão de preços de electricidade. Humm?

sábado, 5 de dezembro de 2009

Talvez não espere


A tarde passou assim, com risos, chá e crumble de amoras silvestres, as últimas das apanhadas pela miúda mais pequena manhã cedo em Setembro.
Entregou-me uma caixa cheia, com um sorriso ainda maior e as pontas dos dedos azuladas. Estavam tão maduras, algumas desfizeram-se..., riu-se. Lavei-as, escorri-as e congelei-as para as gastar depois, devagar. Para saboreá-las demoradamente, quando o frio tivesse chegado e apetecesse sentir a doçura do sol de verão.
Hoje à tarde, entre risos, chá e crumble de amoras silvestres colhidas pelas mãos da miúda mais pequena, a que tem mãos muito brancas e esguias, esqueci a agenda cheia das próximas duas semanas e achei que que há coisas que não são para serem adiadas.


Não me parece que vá esperar que 30 de Janeiro passe.

Digo eu aqui, baixinho,


que gosto de homens de ideias claras, de bem consigo mesmos, que não têm medo de mulheres competentes e que não confundem boa educação e cavalheirismo com servilismo.
Que sabem que igualdade quer dizer igual possibilidade de acesso à educação, aos cuidados de saúde, ao trabalho- à vida, enfim- e não que passamos todos a ter de fazer exactamente as mesmas coisas.
Por isso sim, gosto, muito, de ver homens que não se sentem diminuídos pela gentileza. Que abrem a porta do carro, tomam o lado de fora nos passeios, oferecem o braço em piso sinuoso ou escorregadio, sobem escadas à nossa frente e descem atrás de nós se não o puderem fazer ao nosso lado. E que fazem tudo isto sem esforço, naturalmente. De forma assimilada.
E de mulheres que sabem conviver com isto também de forma natural e assimilada. Sem acharem que foram elevadas ao estatuto de princesas, nem se armarem de repente em feministas modernaças e fazerem discursos inflamados sobre igualdade.

Digo eu, aqui, baixinho, sem hipótese de discussão. É assim como eu digo e pronto!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vão-se... os dedos


Parece fácil percebermos que aliviarmo-nos de coisas nos liberta. Temos menos do que cuidar, menos a proteger, menos a manter, menos a temer que nos seja tirado. Sobra-nos então mais tempo para vida e para a liberdade. Parece fácil mas não o é para todos, pelo menos não sem uma paulada daquelas que a vida sabe dar tão bem. Parece-me.
Desfiava eu o discurso da tal facilidade, chapa três, frases feitas, quando me doeu a verdade que é o facto de ser tão frequente a falha na avaliação do que é realmente importante. E falha até um dia, que é o dia em se vão as pessoas e ficam as coisas. Todas, metade delas, ou lá que porção for. Uma espécie de vão-se os dedos e ficam os anéis.
Vão-se os dedos que cuidavam, que protegiam, que mantinham.

Há coisa de um mês voltei a usar anéis, entretenho-me a rodá-los, estranho-os. Durante muitos anos tive apenas dedos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O lado B. B de Bambi.


Acho graça, juro que acho, às pessoas mentem com quantos dentes têm, dão desculpas esfarrapadas, e ainda pensam que sorriso é sinal de assentimento e que silêncio é sempre sinal de consentimento.
Não, não é. Por vezes o meu silêncio quer apenas dizer que não estou, sequer, disposta a gastar uma gota de saliva e o meu sorriso é uma forma discreta, não de me rir para ti, mas de ti. Bale, babe?

sábado, 28 de novembro de 2009

Anecúmena, eu

... vá-se lá saber porquê.

Ou até sei, mas é cá comigo.
Há dias que se escrevem com n. N de negro, de não, de neura!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Conta-me estórias

Ainda no outro dia comecei a escrever-te. Depois decidi que não, que não te escreveria nem pensaria em ti, sequer.
A vontade de ter-te perto foi coisa de momento. Apeteciam-me o teu colo, as estórias que me contas e as que deixas começadas com desfecho prometido para outro dia. Tal como eu gosto, para que fique aquela vontade impaciente de voltar a ver-te. De ver suavizarem-se as linhas do teu rosto enquanto me contas quem és, onde estiveste e como aqui chegaste. E o bem que te faz teres-me a ouvir-te.



O que é um contador de estórias sem um ouvinte? Mas... Was I made for you? Again, no me lo creo.

Assim...


... ou quase. E com saudades de ter tempo para olhar, sentir e respirar a vida que me inspira e me faz correr para aqui. Estou afogada em trabalho. Logo agora que me apetecia tanto, mas tanto, apaixonar-me...

A partir de 30 de Janeiro do próximo ano estarei mais disponível. I hope!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

No me lo creo


Porque é que escreves? Como é que fazes? Urgência. Apenas.
Não convenci e por isso, dias depois, lançou-me um Vê se escreves. Prometi que sim, se viesse a urgência. Disse-me que ficaria à espera, uma espera injusta.
Bastaram essas palavras. Acho que muitos anos depois ainda sabe picar-me, como fazia quando se sentava ao meu lado nos primeiros anos da escola secundária. Ou sabe ou foi por acaso, mas resultou.
Não sei que lhe fiz, foi o que pensei de repente. Por isso corri até à cozinha e espreitei a lateral do frigorífico. Lá estava, perto da esquina, pendurada com um íman, a tampa do iogurte. Peguei-lhe para ver a data, expirava a 21 de Outubro. Não tinha o ano mas sei bem que foi em 2006. Qual bolinho da sorte, acreditei e afixei-a para que me iluminasse. Guardei-a em tempos difíceis, em que qualquer tolice me parecia um sinal da proximidade de dias melhores. Dias melhores que não chegaram enquanto esperei daquela espera, da sentada. E esperei muito. O que não percebi na altura, mas que hoje sei bem, é que a espera é como os lacticínios: deve ser consumida num prazo razoavelmente curto. Expirado este, está condenada a azedar.
E foi preciso que azedasse para que eu percebesse que muito melhor do que esperar, é não esperar. Porque só quando não se espera é que existe a surpresa, o encantamento, a maravilha e o que sucede é apreciado e não comparado e rotulado como bom ou mau consoante exceda ou fique aquém do esperado.

Se existe o reverso da medalha? Sim. É que quem não espera, não por não depositar nos outros a responsabilidade daquilo de que precisa mas por se ter tornado impaciente, não se senta, raramente se detém. E deter-se calma e pacientemente é fundamental para maravilhar-se.

Não esperes, portanto. Não esperes nada de mim.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Should I stay or should I go?


Já me aconteceu, já disse não vás, não me deixes. Já pedi para ficar, já pedi que ficassem. E depois disso já me disse que nunca mais.
Não peço mais. Acho, até um dia, sei lá. Porque o futuro é, felizmente, incerto. Mas para já é como digo, não peço. E é assim, tanto, que no outro dia dei por mim a dizer, a escrever aliás, porque sombra de dúvida nisso não me resta, que não faço fretes. Se gosto fico, senão gosto bye bye. Excepto quando se trata daqueles que são os meus. Os meus-meus de sempre, aqueles de quem vim, aquelas que pus no mundo e os meus irmãos. Estes são aqueles por quem me viro do avesso, por quem dou passos à frente e atrás. E ao lado também.
Difícil é a indecisão, um pé cá um pé lá, a dúvida entre o ficar e a partida. Esta tem de ser pensada, sentida e resolvida sob pena de vivermos na angústia própria das meias-verdades.
Lembrei-me disto, que foi das coisas que aprendi a maior custo, a propósito de uma reacção ao meu até sempre do post anterior. Bateu cá dentro o Saudades tuas (...) faz-me falta ler-te. Por isso, e porque me faz falta escrever-te, estou assim, não sei se vá, não sei se fique.

Tenho cá para mim que meia verdade é como meio buraco. Não existe.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

40 anos


Segundo os dados, vi a luz do dia uns dias depois da internet, aquela que me permite estar aqui enquanto o relógio corre para a meia noite.
A mesma que deixarei de lado por uns dias, não sei quantos, até que me apeteça voltar. Preciso de um tempo, de falar para dentro, ou quem sabe, de escutar mais do que dizer.
Até sempre. Até já.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Foge comigo Mari..a


Tenho coisas para pôr em caixinhas, guardadas, onde entrarei de vez em quando para viver de forma diferente. Sem dores contra mim, contra ti, contra lá. Oxalá te veja por lá, ao meu lado.

Coisas que me ocorrem, e me fazem perguntar se são possíveis e viáveis estas caixinhas, enquanto tento escrever a minha contribuição para um projecto a submeter à FCT: Modelos de mistura. Porque a vida real é isso mesmo, uma mistura. Viver em caixinhas fechadas é fugir à plenitude. Parece-me, a priori. Mas talvez não seja, depois direi. Direi depois da experiência, em sede de conhecimento a posteriori. Como boa aprendiz de bayesiana que sou.

Pandora, a moça grega, tinha uma caixinha...

domingo, 8 de novembro de 2009

E se?


Pergunto-me, não a ti, se não seria dia disto mesmo, de café acabado de fazer e croissant trazido a casa de manhã cedo? E retalhos de uma estória, depois.
Ao invés, preparam-se apresentações. Não me digas nada, é tudo retórica tra me e me.

Domingo


Está um magnífico dia de Outono. Outonal, simplesmente, que é como se querem os dias de Novembro. Chegou o frio, o céu está carregado de nuvens grossas que o vento forte empurra para que o sol brilhe sobre o rio. As águas hoje estão escuras, agitadas, a lembrar o mar alto. Lá em baixo, o pequeno espaço de pinhal já foi atravessado pelo rebanho de ovelhas. Mais de cem, seguiram em direcção ao rio guardadas por um pastor coxo e dois rafeiros. Passam lentamente e sigo-os até que deixo de escutar os balidos. Sento-me perto da janela, inspiro mais profundamente e digo-me que preciso de me concentrar, tenho trabalho para fazer. Em silêncio.
Concedo-me uma última fuga- música. A que aqui deixo. Banda sonora perfeita para um magnífico domingo de outono.
Enquanto a escuto penso que talvez as gaivotas a saibam de cor e a entoem. É o que me parece, quando lhes aprecio os voos rasantes cá em cima, à minha vidraça.



É bom que ponha mãos à obra. Terça-feira falo aqui e gosto de fazer bonito...

sábado, 7 de novembro de 2009

Esta coisa dos porquês...


Recostaste-te, rodaste o copo, sorriste e atiraste Li e o tema é recorrente, negro, triste. Porque não escreves sobre coisas alegres? A vida é mais divertida do que mostras ali. E porque escreves de forma anónima? Porque é que não está lá o teu nome?

Eu já estava recostada. Imitei-te o rodar do copo, sorri e encaixei. Não sem algum custo, e não sei se consegui disfarçar o incómodo. Uma pergunta assim é como lançar um pedra num lago. Perturba.
Mas o facto de ter vindo de quem brincou connosco há quase 30 anos atrás e quase nada sabe de nós, facilita. É quase académica, coisa de quem estuda os outros. Não é pessoal, não pode ser. A menos que estivesse intrigado por, tal como eu, se ter assumido, por escrito, como interessado no porquê e nas causas das coisas. Ou, desconfio, interessado no porquê e nas causas das coisas em nós mesmos.
A pergunta não me tirou o sono, mas fez-me levantar cedo e tenho andado a pensar no assunto, não gosto de pontas soltas. De acordo, a vida é bem mais divertida, tal como eu sou bem mais divertida do que aquilo que escrevo aqui. Volto atrás e penso no que me levou a querer escrever. Há uma resposta que surge de imediato: necessidade de arrumação interior. Escrevo, na maioria das vezes, sobre o que me incomoda, sobre aquilo que quero compreender e pretendo mudar. Daí a recorrência, é preciso insistir. As melhorias, os avanços, registo-os. São uma espécie de marcos. Recorrentes, também. Com as coisas melhores, mais leves, divertidas, posso muito bem e por isso não preciso de trazê-las aqui.
Este blogue não é o relato dos meus dias. Não é o meu retrato, é apenas uma parte, pequena mas importante. Para mim. Tal como é para mim que escrevo. Até estas ideias um tanto desordenadas, em jeito de resposta, são para mim. São ponto de partida, ponto de reflexão e ponto de chegada. Para entender alguns porquês. E estão aqui penduradas, são públicas, porque isso me faz sentir acompanhada.
Quanto ao anonimato, entendendo-se por anonimato a ausência do meu nome no perfil, que dizer senão que é, talvez, a única coisa em mim que não mudará? Assim sendo, não faz aqui falta. Neste blogue, o assunto é a mudança.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Saberá que sabe que sabe?


Ela sabia da distância, do silêncio, da impossibilidade expressa. Como sabia que ele sabia dela, porque ela lhe deixava recados. Afixava a alma num local público por onde ele passava. Lia quem quisesse mas, sobretudo, lia quem ela queria que lesse. Ele lia. Daqueles, dos outros, alguns liam recados, outros reviam-se nela - há uma tendência grande para a compaixão...

Ela, sempre que lhe escreve, sorri. Decidiu sourire a n'importe quoi.

Ele saberá, ou não. Mas que importa? O olhar dela perde-se no horizonte, não nas pedras da calçada.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Procuro-te


Acordei com vontade de ler poesia e resolvi conceder-me isso mesmo: uma pausa, uma caneca de chá e a companhia de um poeta.
Dos poetas, não sei quando escrevem mas acho que é quando se sentem sufocar. Digo-o porque é quando me sinto assim que me apetece lê-los mas isso é, às tantas, uma tolice minha. Que sei eu deles, que temos em comum senão a dor que eles escrevem e eu leio?


Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Amor do tamanho do Universo


Falham-me as palavras, todas me parecem mínimas, incapazes de descrever o quanto se ama um filho. Esta minha, a minha primeira, faz hoje 18 anos.
Transborda felicidade e eu também. Sinto-me grata e abençoada. Muitíssimo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A segunda


A segunda é, em geral, mais nova do que a primeira. Mais alegre, mais luminosa, mais arejada. Distinta, também, é a motivação que leva a querer tê-la: para descansar. Da primeira. Pelo prazer. Que não se sente na primeira porque lá só há rotina. Mas quando pergunto Mudar-te-ias?, a resposta é Não, gosto, mas é só para passar uns bons bocados.
E eu fico perplexa, não entendo. Acho que é para casa, para a primeira, que se deve voltar, gostar a valer e serem lá os melhores momentos de todos. Ou isso, ou mudar-se, e a segunda passa a ser primeira. Vida de saltimbanco? Não obrigada.

Ter uma segunda, uma segunda habitação é, na maioria das vezes, mais do que um luxo, um capricho. E por isso acho bem que se pague IMI.

Perdidos? Não me parece.


Durante uns dias não me apeteceu falar nem ouvir. Pouco me conforta quando os dias chegam assim como chegaram aqueles, de madrugada, e me mantêm acordada contra a minha vontade horas a fio à espera que chegue o sol.
Tratei de ser paciente ma non troppo comigo, como o foram e são sempre os que me amam, nos momentos em que confundo neura com tristeza ou, pior ainda, com infelicidade. Dá-se um tempo e depois basta. Chorar faz bem, desde que não seja em demasia.
Tudo passa e a ligeireza com que pode passar depende de abrirmos os olhos e vermos bem à nossa volta, tantas vezes mesmo ao nosso lado. Ser capaz de relativizar, dar a verdadeira importância às coisas e, sobretudo, não ficarmos presos ao que já passou e ao que não está na nossa mão mudar é, parece-me, um exercício inteligente a repetir sempre que necessário.

Não estamos sós nem perdidos. Ai isso é que não estamos. Garantimos. Eu e ele.

domingo, 18 de outubro de 2009

O melhor do mundo


Já tiveste uma criança a dormir nos teus braços?
Sim? És um privilegiado, então.
Se já tiveste uma criança a dormir nos teus braços e percebeste que mais do que aquilo que lhe poderás comprar, do que ela necessita é do aconchego do teu colo, da segurança dos teus braços e da doçura do teu olhar, então, mais do que privilegiado, és abençoado.
Pobres e tristes os que se fecham no seu pequeno círculo, que se afastam por não saberem dar, que negam o peito com medo de perder.

E a criança que existe em ti, que é feito dela, que colo tem tido?
Quando foi a última vez que essa criança adormeceu, serena, nos braços de alguém?

Há dias em que me sinto grata por não deitar fora coisas que escrevi há muito tempo. Há recordações realmente doces, como o registo de ter uma criança correndo para os nossos braços. A foto é de 2001. As crianças continuam nos braços. Sempre.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pés à parede. Doucement.


Hoje não foi, de todo, um dia que devesse passar em branco. Estou contente comigo - aguentei-me na derrapagem, não fui ao chão.
É difícil lidar com a força centrífuga- tira-nos de nós. Pior, esmaga-nos o coração contra as costelas. E isso dói, muito. Mas hoje não. Pus pés à parede, tout doucement. Porque a doçura, principalmente a que experimentamos connosco mesmos, é a que tem mais chance de crescer, transbordar e chegar a tudo o que fazemos. Chamei-me de lado e disse, tra me e me, baixinho, menina, então? recompõe-te! Beijei o braço, cá perto do ombro, como fazia a miúda mais crescida e disse, como ela dizia, gosto muito dos meus bracinhos. De volta, recebi um abraço. Aquele que melhor me faz.

Saber pôr os pés à parede, tout doucement, sem ser a pontapé nem fazer alarde, é um exercício que se recomenda. É saber dizer não, a nós mesmos e aos outros, no momento certo, da forma certa, pela razão certa e, claro está, à pessoa certa. Exige que não nos deixemos levar pelo calor da emoção momentânea, da raiva sobretudo, que nos leva a reacções exageradas. E tal pode começar com uma coisa tão simples como contar até dez devagarinho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Just... do it!


Às oito e meia da noite o ar ainda estava quente e pesado. Respirei fundo e comecei, angustiada. Depois da escadaria foi mais fácil acertar o passo e depressa cheguei ao entroncamento perto do rio. Tomei a direita.
Apeteciam-me as luzes de Lisboa ao fundo, o Cristo Rei iluminado (mesmo que de costas para mim) e as luzes da ponte qual cidadela de um navio. De um navio daqueles que partem para longe e deixam saudades na ponta de lenços brancos agitados do cais. E eu, que já tive saudades sem ter partido e até de viagens que não fiz, sonho com um navio, com uma partida a sério e com saudades que doam mais do que estas todas que já senti para que possa sossegar e dizer, daquelas, não-foi-nada-afinal.
A boca seca fez-me descer os olhos do horizonte e procurar a frescura da água do rio, mesmo ali ao lado. Nada. Nem uma brisa, apenas o ar húmido a tornar-se pastoso como o fundo do rio na maré baixa. Sorri-lhe ao achar outra vez que temos mais em comum - a exuberância da maré alta e o lodo na maré baixa.
A sazonalidade dos estados tranquiliza-me. Sei que a frustração é um sentimento passageiro, como sei do que preciso nessas ocasiões. De correr, de me superar de alguma forma. Propus-me a dobrar a distância que de vez em quando faço, oito quilómetros em vez de quatro. Aí não há espaço nem tempo para manias nem auto-comiseração. Ou me concentro na respiração e na cadência ou desisto. Concentrei-me.
Regressei em paz comigo, uma paz suada, trazida a pulso lá do fundo de mim que é como o leito do rio - onde ficam as marcas das águas que passam e não voltam. As pessoas, como os rios, conhecem-se quando se lhes conhece o fundo. Na maré baixa. Estejamos ou não preparados para sentir o desconforto do lodo, a verdade é que é no fundo que assentam os pés. Tudo o resto vai à deriva, ao sabor da corrente.

É hoje, já hoje, que vou ter um dia melhor.

Areia na curva


Chateia-me perder o pé (nem que seja por umas horas). É como fazer uma curva e apanhar areia. Quem já experimentou pode ser solidário comigo, mesmo que só em pensamento, e soltar um Ui!
Não gosto de ansiedades, de dúvidas, de imaginar perguntas para as quais não tenho respostas porque não dependem, de todo, de mim. Estou furiosa porque o dia cresceu assim e o trabalho não me rende.
Esta é para mim: Basta! OK???

Quando chegar a casa equipo-me e vou correr. Esta energia bera é para gastar. Vade retro! Vade! Vade! Vade!

Inspirar


Leio por vezes, pela manhã, coisas que me deixam inspirada. Não por serem cor-de-rosa ou contarem histórias de Cinderelas mas por serem, pelo contrário, espelho do que vai por dentro de alguém. Porque há quem não consiga deixar preso dentro de si o que sente. Gente que expurga a mágoa, que se rejubila com o bom e tem, acredito, esperança, mesmo quando o nega. Ou não estaria a dizê-la. Quando se desiste é o silêncio que impera, não a voz, num sussuro que seja. Não sei em que têm esperança. Naturalmente. Porque a esperança não se projecta. Tem-se. Ao contrário da expectativa, que é carregar os ombros dos outros com as dificuldades que vão connosco.
Li, esta manhã, enquanto tomava café e o ar fresco subia do rio, coisas que me inspiraram. A repensar outra e outra vez no que sou e no que faço. A reequilibrar o que desejo e o que espero. Para mim e de mim. Apenas.

Inspiração deve ser isso mesmo, enchermos os pulmões e a alma de ar novo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Jump!


O rio, sempre o rio comigo e em mim. Aquele rio que mesmo quando já parece ser mar ainda é ele que ali está. Está naquele momento e logo no momento seguinte é ele ainda mas já não é a mesma água. No entanto, o rio é o mesmo. É como eu, é como me sinto. Em mudança permanente mas continuando a ser quem sou porque sou isso mesmo- mudança.
Estive lá, à beira da água, a passar em revista águas passadas, a ver as águas que passam agora e abrindo braços a águas futuras. Tranquilamente e em boa companhia.
O turbilhão emergirá depois. Ou não. Mas estamos de acordo, não se vive em antecipação, mas antes o presente. E esse foi, hoje, uma dádiva.
E a Casa de Santar brinda à falta de vergonha e de medo. É que não há pára-quedas melhor que sabermos, por pouco que seja, quem somos. E não nos envergonharmos disso- nem do que sabemos, nem do que ignoramos (mas que estamos dispostos a descobrir).

sábado, 10 de outubro de 2009

E quando a prima donna é ele?


Tinha para mim que os homens eram mais chegados à terra, com menos manias do que nós. Que não falam por rodeios, vão directos ao assunto e que, sobretudo, são mais dados a caçar do que a serem bunnys ou bambys, ou seja, a serem caçados.
Sempre li, ouvi dizer e me disseram, vis-à-vis, que detestam mulheres chatas e piegas, que os perseguem com telefonemas e sms's, que fazem birras e amuam quando eles não lêem nas entrelinhas (queridas, não adianta, eles raramente sabem o que são entrelinhas, mas isso também não interessa aqui nem agora).
Pois bem, crescendo e aprendendo: há-os com todas as características que tanto criticam nas mulheres.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DIY sempre? Não.

O gosto pelo porquê, pelo como se faz e pelo como funciona andam comigo desde que me conheço e, dos presentes que o meu pai me deu, recordo que recebi com especial entusiasmo um busca-pólos e um alicate para escariar fios.
Por cá, no último mês as avarias têm-se sucedido e foi altura de deitar mão à caixa de ferramentas. No início houve um misto de raiva e impotência. A primeira porque me vi sózinha, porque achei injusto não haver um par de braços logo aqui com os meus e um sorriso cúmplice a dizer-me vamos a isto, somos capazes, e a segunda porque apesar de saber como se faz me falta força. Aquela força de pulso necessária para abrir tampas, desatarrachar e, no final, dar aquele aperto.
As modestas conquistas que me encheram de confiança, para além da questão da máquina da roupa, são:
1- a substituição da canalização que alimenta a misturadora da cozinha - comprei bichas e borrachas, sózinha, tudo certinho à primeira sem precisar de instruções. Instalei tudo mas, claro, tive de pedir ajuda para o aperto final mas ficou tudo fantástico, não cai uma pinga!
2- diagnóstico do problema do carro- estou apeada, é certo, mas quando disse (entusiasmada) na oficina o que achava que passava o técnico só se ria e dizia é isso mesmo, mais umas achegas a chamar as coisas pelos nomes. Apetecia-me ter lá ficado, ver o carro subir no elevador e aprender a desmontar aquela coisa. Continuo apeada.
3- fabriquei uma peça para o pisca traseiro da scooter da miúda mais pequena - os casquilhos das lâmpadas de baioneta têm uma mola e um disco que mantêm a base da lâmpada em contacto com o resto do sistema (sei lá como se chamam estas coisas!). Solução a la McGyver, a mola saíu duma caneta que fazia publicidade à universidade que fica do outro lado da minha e o disco fi-lo a partir da tampa duma garrafa de água. Pelo caminho foi preciso desmontar os plásticos quase todos da scooter e voltar a montar tudo, com algumas falhas no respeito ao first out last in por distracção. Trabalho de equipa de pai e filha, os dois na garagem quase toda a tarde como quando me ensinou quase tudo o que sei sobre electricidade.

Porquê escrever isto, que provavelmente qualquer pessoa também faria? Porque tem a ver com dificuldades internas, barreiras, insegurança e uma necessidade de auto-demonstração de capacidade. Porque detesto chamar por socorro antes de tentar resolver as dificuldades. Mas, sobretudo, porque ontem estiveram, pai e filha, próximos, muito próximos. Porque o amor e os laços que unem mais fortemente os seres humanos são aqueles que se criam quando se empenham conjuntamente para vencer dificuldades. Porque a minha zanga por me sentir só tem pouca razão de ser. E também para voltar aqui daqui a uns tempos, quando estiver zangada e disser que não quero que se cheguem a mim, que sou bem capaz de resolver tudo sozinha, que tenho de ter presente que as dificuldades são oportunidades. Não só de aprender mais alguma coisa mas também de reforçar laços.

Na minha mala de ferramentas falta, entre muitas outras coisas, um conjunto de chaves de bocas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sim ou... sim?


A paixão move-nos.
E fá-lo a uma velocidade tal que só quando batemos com os ossos no chão é que nos lembramos dos anúncios da prevenção rodoviária. Aí, a maior ou menor custo, levantamo-nos, sacudimos a poeira e garantimos que aprendemos, que da próxima vez não será assim. Ou não. Ou que se acabou, que não haverá próxima. Ou sim.
Quanto a mim, é caso para dizer been there, got the t-shirt to prove it. E, porque não há duas idas ao tapete que sejam iguais, carrego comigo todas essas certezas contraditórias em que, cada uma de sua vez, acredito a valer.
Já o amor... sustenta-nos.
Esta é a certeza a que me agarro com unhas, dentes e alma e que emparelha sempre, embora de forma alternada, com as outras certezas mais acima. O amor pela vida, por nós mesmos e por aqueles que estão e estarão na nossa vida. De forma não narcisista, mas antes um amor tolerante, que aceita diferenças e, sobretudo, respeita. Descobri que vou no bom caminho para saber amar assim. Acho que já sei amar assim. Sei um bocadinho. Sou, depois de ter dado várias vezes com as costelas no chão e de muitas feridas lambidas, hoje, uma pessoa muito mais tranquila e mais feliz também.
Andava eu blá-blá-blá-blá-blá-blá,blá-blá-blá-blá-blá-blá, whiskas saquetas, agora-é-que-estou-bem-assim-calminha, adepta do amor-próprio-e-fraterno-e-mais-nada quando zás! dou por mim com ar alienado a rir-me p'ra toda a gente.

O amor sutenta-nos, a paixão move-nos.
Se se pode viver sem paixão? Pode, sim. Mas tem muito menos graça. E já que as costelas estão em excelente forma, venga!

Sim, venga! que tenho aqui à mão um estojo de primeiros socorros...

domingo, 4 de outubro de 2009

Escolhas?


Vi-as sentadas à beira da estrada, uma após outra, à sombra dos pinheiros. Ambas numa espera displicente, própria de quem não quer o que espera que venha. Eram as duas miúdas, garotas de rosto fresco, quem sabe da idade das minhas filhas, feitas mulheres. Mulheres de vida fácil, como sairá da boca de gente que só pode não saber o que diz.
E eu, cada vez que vejo isto, sinto que sufoco. Depois passa-me, porque na minha pequenez todas as dores alheias se desvanecem. Passa-me a dor e fico só a sentir-me em falta. Porque dia após dia, não importa quanto faça, estarei sempre dando menos do que recebi- a possibilidade de escolher. De facto.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Espelho meu, espelho meu

Tenho dias assim, dum cepticismo que só serve para me magoar, em que digo que ninguém ama ninguém, amam as mães os filhos e mais nada.
É mentira.
Andava por aí o pensamento, culpem-se as hormonas pelo exagero, quando me lembrei da justificação que recebi quando disse, na aula de grupo, que fazia falta uma parede de espelho na sala de exercício. Faz parte do conceito da marca, respondeu-me, quisémos pôr mas não pudemos. As pessoas vêm sobretudo para perderem peso e não gostam de se ver. Fiquei de queixo à banda, discordei, argumentei que fazia falta não só para que pudessemos corrigir a postura mas também pelo efeito anímico. Vai ao ginásio quem quer, para se sentir bem, e se há coisas que podem ser contagiantes numa aula de grupo são a alegria, o bem estar e o sorriso.
E é precisamente o sorriso, o nosso para nós mesmos, que nos faz tanta falta e nos faz tanto bem. É ingrediente essencial duma tarefa árdua que é amarmo-nos, a nós próprios, aceitarmos de nós o que não podemos mudar e dedicarmo-nos a melhorar aquilo que é possível - que é, precisamente, o que aquele grupo de pessoas está ali a fazer.
Há coisas que não entendo. Este "conceito" é só mais uma entre tantas...

E sim, haverá alguém que nos ache perfeitos.
Nem que seja a nossa mãezinha, nos dias em que está bem disposta.

Não colho flores


Não colho flores mas a garganta apertava-se-me de emoção quando me trazias jarros. Não por serem belos, tampouco por terem a minha predilecção, mas porque te imaginava colhendo-os pensando em mim.
Não colho flores, não tenho flores em jarras. Essa beleza não me pertence, não a quero fechada entre as minhas paredes. Nem essa nem a tua, que se sente presa mesmo com a porta aberta e as janelas rasgadas sobre o rio.
Liberdade e mobilidade não são a mesma coisa. E a tua, tal como a das flores, passa por ficares junto à terra.

E eu... eu não colho flores.

Acordei com vontade de fazer arrumações e, ainda mais, de deitar coisas fora. Estou farta de coisas, enchem-se de pó e a sua inutilidade ocupa-me e entristece-me. Guardo memórias, não fossemos nós senão o somatório do que já vivemos. Resgatei esta, escrevinhada algures.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pump it up!


Olha, já que ultimamente te tenho pegado na mão, reparei, tens as mãos ásperas. Não por cima, mas na palma, tá a precisar de creme.
Foi como pisar um pico, doeu-me logo. Doeu-me o tom de censura, não o reparo, não o facto. Lavo muito as mãos, atalhei seca. Fazes muita lida. Faço. E lavo muito as mãos entre o que faço e entre o tira e põe a luva de borracha. Recolhi a mão, Não quero que te arranhes... Não reagiu particularmente e continuou sabe... a menina é muito formiguinha, muito Cinderela (devia querer dizer Gata borralheira mas enfim), devia arranjar quem lhe fizesse as coisas em casa e dar a roupa a passar, é barato, por 30 ou 40 euros passam-lhe a roupa de dois meses. Foi nesta altura que me deu vontade de rir, dizer desce à Terra. Mas não. Encontrámo-nos para almoçar, para me distrair, desanuviar, mais nada. Tenho realmente mais que fazer e, educar para a realidade, apetece-me fazê-lo quando se trata das minhas filhas. Apenas lhe sorri, chutei da irritação o que consegui, dei-lhe o braço que é macio e ainda está bonito, dourado do sol dos meus dias de cigarra e disse: que tal acompanhar a menina até ali acima? A Gata Borralheira foi convidada para uma vernissage amanhã, vai ter de ir de sapatos, vai comprar uns. Subimos. A foto não faz justiça. São giríssimos, assentam que nem uma luva e têm tudo a ver comigo. Quem é mulher entende, um parzito de sapatos acalma. Ou não. À despedida deitei-lhe O trabalho não faz as pessoas piores, sabe? Não, não faz. Faz só as mãos piores, disse-me a rir, satisfeito com a graçola. Ah!... E onde é a vernissage? Cascais. E vai sózinha? Não. Deve ir gira, e eu que não vou vê-la... Pois é, não vai ver, que pena...

E eu, que acho que o que nos distingue é o carácter que revelamos e não os carats que possuímos, dei o meu tempo por mal empregue, a menos da descoberta do belo par de pumps que me ofertei.
É que há dias em que pessoas de bom senso descarrilam e se portam como se não tivessem dois dedos de testa. E irrita-me que amigos meus, pessoas de que gosto tanto, tenham saídas destas. Fúteis e insensíveis.
Ou tenho razão, ou ando hipersensível, ou passa-se outra coisa qualquer.

domingo, 20 de setembro de 2009

Alívio

Descobri que não sou só eu...


sábado, 19 de setembro de 2009

Será que os há?


Trago comigo, desde há dias, um aperto no peito, daqueles que se sentem na garganta e não deixam que a voz saia límpida quando falamos.
Não gosto disto, do coração, a garganta e os olhos todos ligados, de forma que ao se apertarem os dois primeiros pingam os terceiros. Chateia-me, pelo ar de tonta que me dá, que se calhar é o verdadeiro, mas que não gosto que se note tanto. E assim fiquei, mais do que já tenho andado, quando há pouco dei com uma frase d'O Rio Triste de Fernando Namora, a propósito da distância de casa:
"Ia-se (...) para nos sentirmos num lar. As pensões e as "repúblicas" de estudantes é que nunca poderiam fingir que o eram, não há lares sem mulheres".

Isto e ainda nem se foi, a miúda...
Isto e nem sei se é por ela.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DIY ou o poder do não


O "não, obrigada, não é preciso, eu faço sózinha" sai-me com uma facilidade espantosa. É daquelas frases alojadas nas amígdalas que saltam sem passar pelo cérebro. Digo-o logo, sem tentar sequer colocar-me no lugar de quem oferece de boa vontade, digo não e pronto. Família e amigos ofendidos já me disseram, carinhosamente (ou não), não sejas assim, não conseguimos chegar a ti, não nos aceitas para o que é próprio do Amor, que é a partilha das dificuldades. Nessas alturas reconheço, sorrio e digo que têm razão, que mudarei.
Tento.
Tentei há dias, quando me levantei e me deparei com a máquina de lavar roupa com o programa terminado e a cuba cheia de água. Não carece inscrição na Ordem dos Engenheiros para se ser capaz do diagnóstico: bomba da água entupida. Sei como se faz, desmontar e montar devidamente trecos desses passo a passo, a menos do mais elementar: ter força suficiente para abrir o diabo da tampa. Não tenho. E eis que vi no caso uma oportunidade e liguei, mão estendida aberta, desta vez para receber ajuda. Do outro lado isso é fácil, fazes tu ou chama o técnico e se não conseguires mesmo ou ele não puder diz, que nesse caso vou aí. Encaixei, chamei-me asna, furiosa, por ter dado parte de fraca e pus-me ao trabalho. Drenei a máquina o mais que pude, haja paciência para vazar oito litros de água à velocidade do soro a entrar na veia. Depois foi a vez da tampa da bomba, mais fechada que uma noz. Perdi a conta às tentativas para rodá-la e ela imóvel. Insisti, insisti, esfolei os nós dos dedos, voltei a insistir. Acabou por ceder e foi a vez da água espalhar-se pela cozinha. Ri-me sem o desespero da mulher do anúncio do calgon, mas antes com o gosto próprio de quem levou a melhor, apanhar água do chão é canja. Desobstruí a ventoínha, fechei tudo e liguei a máquina. Funcionou, claro.
Quando a ajuda chegou tive de respirar fundo. Apeteceu-me um já não é preciso magoado mas respirei fundo e disse: ainda bem que pudeste vir, preciso de ajuda para desmontar o rodapé dos armários da cozinha e limpar lá por baixo. Uma daquelas coisas simples, mesmo muito fáceis de fazer, mesmo muito chatas, mas que se fazem muito bem em boa companhia.

Quanto à tampa da bomba, estamos entendidas eu e ela: agora está fechada pelo meu pulso, será aberta pelo meu pulso. E DoItMyself. É que ouvir nãos e ficar como se nada tivesse sido... ainda não cheguei lá.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

desEncanto


Tenho saudades tuas de forma intermitente, já não me lembro de ti todos os dias, e as saudades, não sei se são do que te conheço se do que imaginei que pudesses ser. Que importa? Afinal, como me disseste, o encanto está em não se conhecer.

Talvez te console imaginares-me e eu talvez te esqueça em breve.

domingo, 6 de setembro de 2009

GAvante!


Hoje acho que os concertos das bandas de que gosto podiam ser todos ali, do outro lado da baía, onde fazem há já uma data de anos aquela festa de que dizem não haver outra como aquela.
Todos os anos por esta altura o trânsito aqui fica caótico, há barulho, acampamentos, ruas cortadas e a música do partido, estridente, a sair de megafones encarrapitados nas carrinhas. E eu desespero, praguejo, digo para-o-ano-meto-férias-e-ninguém-me-apanha-por-cá. Depois esqueço-me, fico e acabo por sorrir deliciada pelo magnífico fogo-de-artifício com que a festa é encerrada. Aquele que mais uma vez se repete enquanto escrevo estas palavras.
Este ano respirei fundo, praguejei só metade do habitual e comprei EP's às miúdas na delegação do partido, catada na internet, e que afinal é mesmo aqui em frente, só com a baía pelo meio. Um espaço pequeno e sombrio com uma secretária velha entalada sob o vão da escada, três cadeiras e três homens de meia idade falando baixo que se calaram quando entrei. Meia idade, digo eu, porque me pareceram ter uma vez e meia a minha e isso, legalmente, é menos que a idade seguinte, que é a terceira, dizem. Adiante. Que sei eu de idades? Parece que a verdadeira está lá dentro de cada um, que o corpo só engana.
Quebrei o silêncio. Boa tarde - boa tarde. Duas épês, se faz favor. Trinta e oito euros, não é? Já vi que não há multibanco, pois não? Há sim, é já ali na esquina, menina.
Desarmei. Sorri encantada com a forma genuinamente prestável como me respondeu. Acho que tenho que chegue, ou quase, vejamos. Tinha, sobraram-me uns cêntimos. Numa folha quadriculada, de margens estreitas e sem deixar linhas de intervalo, escreveu 2 e depois, 38,00. Em seguida abriu a gaveta, guardou em montes separados as notas de dez e de cinco, abriu a lata das moedas, guardou-as e tornou a fechar a lata. Tirou dois ingressos e estendeu-mos com um Obrigado. Retribuí e saí para o calor da tarde a pensar que deveria ter ido ao multibanco, que talvez... mas não, não gosto de ajuntamentos. Acho...

O moço da foto foi o que ouvi esta noite, à distância, sem que o ruído me ferisse. Daqui. De onde vi a Atalaia iluminada e as luzes da cidade, vibrando, a perder de vista. A partir de amanhã, nas noites, o verde palco da festa voltará a ser como sempre, uma mancha negra dormindo na paisagem iluminada. Apenas uma luz, vermelha, no cimo da torre metálica onde vive hasteada todo o ano a bandeira do partido, marcará a sua existência. E eu voltarei à minha paz, ao meu amado silêncio na paisagem.

O G lá de cima tem história. Deliciosa. E contar-se-á a pedido.