domingo, 31 de maio de 2009

(F(l))Utilidade - um post eventualmente chocante


A semana passada foi bera. Bera q.b. para me desconcentrar e entristecer a ponto que a tarde de sexta-feira ameaçasse chegar ao fim mais depressa do que eu chegaria ao final da lista colada no quadrante laranja da minha matriz de Eisenhower. Os trinta e cinco graus no termómetro não ajudavam à desenvoltura, de forma que mandei tudo às urtigas, passei a ponte com a fila a queimar (mas passei) e antes que o sol caísse no mar, caí na piscina de um amigo. Abrimos a época balnear lá de casa. Rimo-nos, ensaiamos passos de salsa e pusémos a conversa em dia. Foi uma autêntica acção de CPR. Senti-me de coração e pulmões novos. Acho que tenho a resposta para a pergunta que deixei noutro dia. Cura-se com mais do mesmo. Amizade cura-se com amizade, tal como mordedura de cão se cura com nova mordedura de cão.

Descobri que as flutes, se enchidas no máximo até metade, flutuam.

Mil folhas - the end


Catorze semanas sem direito a fim-de-semana que não fosse de trabalho. 19:30 do dia 31 de Maio e terminei! 

Vou largar esta máquina infernal, abrir a janela da sala, deixar o ar fresco da neblina que se formou sobre o rio entrar e atirar-me para o sofá. E vou ver um filme, lavar a vista com esse senhor que está aí acima. Um homem bonito na tv num final de tarde de domingo deixa-me francamente bem disposta.

sábado, 30 de maio de 2009

Também este nós perdemos


Sempre achei que a beleza faz mais sentido se for partilhada. Tenho dificuldade em ver coisas belas e não as associar a alguém de quem goste. Acho que todos o fazemos.  Em limite, esta associação, a das coisas mais belas, vai para a pessoa que amamos.  Ou isso, ou transborda. Ou magoa.
Acabei de ver da minha janela a festa do fogo de artifício sobre o Tejo. Foi belíssimo. E transbordou. Fez-me recordar um dos meus poemas favoritos. Deposito-o aqui antes que me magoe, como acontece tanta vez quando, daqui, vejo a festa do poente.


Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei a minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda 
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que só tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
E porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?
Caiu o livro em que sempre escolhíamos ao crepúsculo
e como um cão ferido encostou-se a minha capa aos pés.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
para onde o crepúsculo corre apagando as estátuas.

Pablo Neruda


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Colo


Os meus amigos têm os braços do dobro do comprimento normal, o peito macio e quente como uma almofada de plumas e o coração em forma de búzio. Sei que é assim quando me acolhem em abraços de duas voltas e me deixam, assim aconchegada, adormecer a ouvir o mar. Até que os monstros e as bruxas se vão.

Para além do muro


Querer é poder. Como frase, vale o que valem todas as outras, boas ou más. E não há insígnia, nem repetição, que a faça entrar no sangue, tornar-se parte de cada um. Tem de ser escolha assumida por inteiro, desejo transformado em determinação, consciente de que não há recompensa sem esforço e que não se alcançam novos mundos sem correr riscos. É ser capaz de avançar, parar se for preciso, e não confundir pausa com desistência. É não perder a perspectiva. É conseguir ver para além do muro. Sempre para além do muro.

É mais que lema de escola, é lema de vida. Quem quer, pode.

Eu, viajante


Quando as viagens chegam ao fim perco a fala. Nessas alturas, o silêncio torna-se líquido, turva-me a visão e atrapalha-me o pensamento. Procuro na desordem o essencial, as coisas boas, o copo meio cheio. Tenho tudo comigo e as mãos vazias. 
Não as quero de outra forma pois não me serviriam para coisa alguma. É nelas que enxugo os olhos, são elas que sacodem a poeira das minhas roupas. É com elas em riste sobre os olhos que percebo que onde parecia estar o fim da estrada está o ponto mais alto, de onde verei a viagem que me espera.


quarta-feira, 27 de maio de 2009

Velho, rapaz ou burro?


Se há coisa para que servem as histórias que nos foram contadas na infância é para que no nosso subconsciente permaneça a lição. Ou não.

Há já alguns dias que deixei de ver pelas ruas o outdoor em que um candidato às europeias aparecia de braços cruzados, numa pose que permitia adivinhar-lhe qualquer vontade menos a de fazer aquilo que de um representante eleito se espera. Não foi pelo que eu disse aqui, certamente, que o outdoor foi substituído por outro, também com a fotografia do candidato. Corte-se o mal pela raíz, zero de body language, e aparece-lhe apenas o rosto. Mas foi a vontade de fazer bem longe demais e, antes que se levantassem vozes a criticar a franja demasiado betinha do candidato , zapt!, ei-lo cortado logo acima do sobrolho.
Fez-me lembrar a história d'O velho, o rapaz e o burro, em que, na ânsia de calarem as vozes alheias, vão, tais cata-ventos, andando ao sabor dos palpites que lhes lançam. A equipa da campanha, não querendo passar pela fase intermédia das críticas em que se mandaria o candidato cortar o cabelo, apressou-se a passar à fase em que o velho e o rapaz resolvem levar o burro às costas.

Parece-me o caso votado ao fracasso pois se a mensagem que passam não for a de que ainda não perceberam que a consulta da própria consciência e o bom senso, também próprio, são essenciais, será a de que se se portam tais cata-ventos, então são demasiado velhos, demasiados jovens ou demasiado burros para nos representarem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

É dose

Zangarmo-nos no momento certo, com a pessoa certa, pela razão certa e na dose certa é dose. É dose, pode parecer impossível, mas não é. Essa capacidade tem nome e treina-se. Chama-se assertividade.
O que também não é fácil é, tendo descarrilado, saber abrandar a discussão e voltarmos a focar-nos no essencial.
A quantidade de boas relações que se estragam por se ter ido longe demais num desentendimento é enorme. Tão grande que vale certamente a pena gastarmos algum tempo a cuidarmos para que na próxima vez que sintamos o calor da discussão mais próximo, sejamos capazes de deixá-lo subir apenas até onde o assunto merecer. E nem mais um grau.

Digo eu, que sei do que estou a falar.

Explodimos e, para além do estrago, há a figura de palhaço. Ou será ilusão de óptica que só a mim atinge?

Oh happy days!


A felicidade é realmente feita de pequenas coisas. Hoje vou ver essa paisagem e sei que me vai fazer muito, mesmo muito bem. Mesmo que a ocasião seja para despedir-me de amigos queridos que não verei por uns meses.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Balance


Leio-a como sendo uma palavra inglesa - balance. Agora em português - balance. Acho que equilíbrio é isso mesmo, ser capaz de balançar. Balançar , contrabalançar e continuar. Acho.

Acho e quero. Para mim.

Figurões

Os nossos irmãos do outro lado do Atlântico chamam-lhe figurinha. Cá é cromo. 
Acabada a moda de coleccioná-los em papel, coladinhos em cadernetas, o que era realmente giro, ei-los à solta em carne e osso. E são todos cromos dos difíceis, daqueles que pensamos impossíveis de existir, mas que infelizmente abundam. Dão novo fôlego à definição de ridículo e valem muito menos do que aquilo que anunciam.

Queridos, porque vocês também são filhos de Deus, aqui fica para vós. Enjoy!


domingo, 24 de maio de 2009

Feu rouge

Costumo rir-me e dizer que não tenho medo de coisa alguma a não ser de luzes vermelhas no escuro. É mentira.
Escondo o medo que tenho da falta de lucidez, a luz que faz acender a luz vermelha no cérebro.

Também tenho medo do mau gosto. Muito.

sábado, 23 de maio de 2009

Alternativa


Garante que se não entrar em medicina vai ser rapper. Ou MC, como ela diz.
E já tem portefólio...

Grega


É como me vejo. Tanto que me apetece pendurá-los, aos inventores da ética e da moral, pelos calcanhares. Era isso ou nunca ter pensado nem sentido a importância destas coisas. Ser do mato, do mato mesmo, onde se vive em comunhão com os bichos e se aprende com eles, que vivem como manda a natureza, ou ser da cidade selva, onde vale tudo e manda a natureza humana, o que vai dar ela por ela. Mais coisa menos coisa. 
Estou de mal convosco, gregos da ethos e romanos da mos, a fazerem-me ser quem não sou na verdade.

Não sei se estou de mãos atadas se sem bracinhos. Mesmo.

Cocooning


A noite de sono foi curta. Outra vez curta e intermitente, como quase sempre. Acordei demasiado cedo, a uma hora em que a casa ainda pede silêncio. Deixei-me ficar um pouco, a ensaiar respostas para as perguntas da madrugada. Nada de novo, apenas ideias velhas revisitadas outra e outra vez. Ensaio uma mudança de perspectiva, tenho andado a tentar olhar para mim de fora, mas a mudança chega devagar e acabo a pensar mais do mesmo. Levantei-me com a convicção de que o que me atrai nos outros é a semelhança com aquilo que aprecio em mim e o reconhecimento no outro de parte do que gostaria de ser. Dificilmente escapo a isto, não consigo gostar realmente de pessoas que não admire. Até aqui tudo bem, não fosse não lhes tolerar a companhia quando lhes reconheço defeitos que não tolero em mim. E desses, o mais grave é a intolerância.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Virei buscar-te um dia. Prometo.


Vou ali por-te na prateleira, se não te importas. Gostava de te levar comigo mas não és de confiança. Não me ouves, a mim que sou ponderada, eu que estudo a teoria, que sei tanto de algumas coisas e alguma coisa de quase tudo... Não posso levar-te, tu fazes o que te apetece e quem se vê a braços depois sou eu. Fica aqui sossegado, por favor. Um dia virei buscar-te e seremos felizes os dois. Prometo.

Ficar


Há dias em que acordo com urgência de partir para não voltar. São dias de raízes soltas, que não é como as raízes se querem. Atribuo-a à falta de chão que seja meu, que se cultivasse terra esta vontade não voltaria. Tudo é móvel ou acessório menos a terra.

Essa vontade de partir que surge por tanto querer ter por que ficar. Por tanto querer ouvir fica.
Que é o que terra de que eu cuidasse me diria.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ou fica com as renas



Também gosto deste rapaz. Mas não tanto quanto do outro.

It's a kind of magic


Já não me deslumbro mas ainda me encanto. Muito.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Leva-as?

Cada pedaço que sai de nós não é perda. É semente. Como o são as palavras que, pensamos, o vento leva.

Síndroma de carpa dourada


Cada um tem aquilo que o puxa. A mim calhou ser o rio.

Hoje almocei à sua beira, olhando as tainhas. Nadam ora em pequenos grupos ora sós nas águas de brilho nacarado do óleo dos motores e tantas vezes opacas do que Lisboa ainda despeja no Tejo. Junto às docas, entre os veleiros, onde a água do rio reflecte o azul do céu, fazem piruetas quase ao jeito da Esther Williams e têm um ar alegre, de quem está de bem com a vida.
Pouco se pesca tainha, quase sempre por diversão. No anzol vão só as mais tontinhas, as que se julgam promovidas a carpas douradas.

As tainhas são do rio, mas não é preciso lá ir para ver disto.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Contagem decrescente


O tempo é precioso, não quero que corra ainda mais depressa, mas a verdade é que entrei em contagem decrescente. O semestre está acabar e isso significa que vou poder dedicar-me mais a estudar coisas que me interessam e a delinear melhor o plano de trabalho para a minha tão desejada sabática.

E há o bom tempo de volta. Não sei ao certo quando chegou mas sei que hoje dei por ele a valer. Talvez porque tenha passado algum tempo fora do meu estaminé, talvez por ter aprendido fora desta minha escola coisas novas que me interessaram. Ou talvez apenas por ter acordado em posição starfish depois de uma noite um tanto insone.
Ou talvez por me terem dado 30 anos. É que em tempos de crise isso faz ganhar o dia...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Double face

O silêncio raramente é paz. Ou sabedoria. Ou conciliação. Ou quietude. Ou sinal de inteligência.
Maioria das vezes é tão só conveniente, por levar a pressupor alguma das coisas acima. Parece-me.

It takes two


Sempre gostei de palavras. Minto, nem sempre. Sempre as usei muito, isso sim. Em criança, apesar de falar pelos cotovelos, as palavras não eram senão a ferramenta que me permitia fazer perguntas e nunca me encantaram por si só. De resto, a imaginação que emprestava à elaboração de teorias e ficar pendurada de cabeça para baixo eram o que mais me divertia. Só muito mais tarde comecei a gostar verdadeiramente das palavras - foi quando percebi que deveria falar menos e pensar mais, coisa que assimilei mas que ainda não aprendi a colocar em prática tanto quanto gostaria.

Passei a falar menos, é certo, mas passei a escrever. Agora estou à espera de deixar de escrever, de pensar apenas. E só. Quero perder a sensação de inchaço que me obriga a pôr as coisas cá fora depois de (mal) filtradas. Aspiro tanto ao silêncio tranquilo de quem não sofre por miudezas...

Aspiro a ele mas não é desta. Desde esta manhã que há uma palavra que preciso deitar cá para fora: comprometimento.

Comprometimento.

Ou compromisso, que é a mesmíssima coisa, atesta o Priberam. Gosto mais da primeira forma.
Basta olhar para ela para se perceber o que significa. Senão, vejamos - comecemos por parti-la em duas - com + prometimento. Ou seja, algo que se fez em conjunto (com) + prometimento, ou seja, promessa. Um compromisso ou comprometimento é, pois, algo que duas pessoas (ou entidades - mas que acabam por, de alguma forma, ser personificadas) assumem. Assumem e devem cumprir, como pessoas de bem que todos fazem questão de frisar que são. Até o Estado.

E anda este bater de tampas por aqui porque a M., que é minha aluna de mestrado, inteligente, talentosa, de espírito aguçado e trabalhadora, está a rebentar pelas costuras. Porque é ela que quase sempre a sós cuida de uma promessa que não fez sózinha. Da promessa, dos três filhos, do trabalho precário, da tese. Deixei de lhe perguntar "como vai?" quando chega porque nessas alturas os olhos brilham-lhe demais. Não perdemos tempo em lavagens de alma, temos mais que fazer, temos um compromisso: eu de orientá-la, ela de fazer a tese. E não é desta que deixaremos de ser pessoas de bem.

Entregou-me a primeira versão completa da tese. Dedicou-lha e aos filhos. Coisa de que ele se gabará aos amigos. Ou talvez não.

Sono repara-dor

Vi no blogue do Bagaço amarelo ontem e resolvi prestar atenção ao meu caso: adormeço como a maioria e acordo na posição adoptada por menos pessoas.
Ainda de acordo com o estudo que ele refere, concluo que me deito com a atitude com que passo os dias - de casca dura, a resguardar a sensibilidade que possa haver cá dentro - e acordo amistosa, pronta a ouvir os outros e a ajudar.
Nada de realmente surpreendente, já que sempre ouvi falar no efeito reparador do sono. Vou tentar fazer umas sestas, a ver se chego tratável e amiguinha dos outros ao final do dia. É que me tem sido difícil. Mesmo.
PS: É a (de)formação profissional que me obriga a perguntar pelos 11% que faltam, não a insónia da noite passada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Parar

Saber fazê-lo no momento certo é dificílimo. Mais corrente é percebermos, a posteriori, que deveríamos tê-lo feito antes. E se na maioria das vezes este passar do ponto óptimo é inconsequente, traz-nos conhecimento e pode até ter graça, casos existirão em que não é bem assim, e pagamos caro o esticar da corda.
Serviu-me o exemplo desta manhã, corriqueiro e inconsequente o mais possível, para me lembrar disso mesmo. Estando dependente da aquisição de uma chave philips de tamanho adequado o eventual regresso do ferro de engomar lá de casa às suas funções, resolvi arriscar a entrada numas calças que me ficavam apertadotas no ano passado. Para meu espanto estavam folgadinhas, folgadinhas, eu uma elegância lá dentro. E que fez a menina em vez de se deixar ficar no xa-la-la-la-la toda contente? Foi a correr vestir umas outras, cinzentas como a tristeza e estreitas como a visão dos invejosos o que, claro, a deixou tal embutido de cerdo ibérico e a calou num ápice.

A ousadia dá graça à vida, mas agir sistematicamente de forma irreflectida é outra coisa e tem nome- estupidez.
Este post não tem pés nem cabeça, tal como não tem a ver com trapos ou dramas-de-balança. Não tem ponta por onde se lhe pegue e só quer dizer uma coisa: ando preocupada.

O melhor de tudo


Por muito que pareça manifestar o contrário e apesar de quase ter banido a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural, continuo a achar que o melhor de tudo são as pessoas. Pelo potencial que cada uma encerra, pela surpresa boa que poderão ser se nos demorarmos um pouco com elas. Não quer isto dizer, de todo, que gosto de toda a gente. Nem por sombras. Apenas que acredito que terei, ainda, muitas surpresas boas na vida.

Li poesia de minha predilecção esta manhã, quando não esperava encontrá-la. E isso fez-me tão bem!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Estou...


Não é à espera. É áspera, mesmo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Diz ela

"Temo que esquecer um bom carácter aliado a inteligência raie o impossível. "

Uma companhia inteligente, se quiser ser agradável, é como uma lufada de ar fresco, tal como um bom carácter é um bálsamo para a dor que a inteligência nos legou. Mas a falta de um bom carácter aliado a inteligência só me parece superável por mais do mesmo.
E não vale a pena aviar estúpidos pelo caminho, como quem vira mines. Por ser grotesco e acabar por nos deixar com a sensação de desperdício. Desperdício de nós mesmos, pois não há prazer que desculpe a boçalidade. 
Estejamos, antes, preparados para passar por algum desgosto, mas apenas algum, pois muito desgosto revelará demasiada falta de senso.

Body language

Num outdoor de publicidade, um candidato às Europeias surge de braços cruzados. A mensagem que recebo vendo isto não é, creio, a que ele pretende passar. Ou é?

domingo, 10 de maio de 2009

Foi dito por ele



"Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas".

Achei graça e concordei logo, pois claro, pensando nas resmas de estúpidas que devem ser necessárias para me esquecer. Ah!... desengana-te, querida, voltas mafarricas que a vida dá, sabes lá tu em que rol és  contada e por que és tomada enquanto também tu tentas esquecer. É que quando toca a dores, turva-se a visão e, até que passe, tudo é paracetamol sem direito a griffe, é genérico.

Esquecer alguém inteligente custa. Ponto final.

Viens, circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada!



Viens, fais la fête
Viens dancer toujours
Célébrer l'amour

Séche tes larmes
Regarde autour de toi
Souris a n'importe quoi

Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sent tes roses

Suis les mots du poète
Prends la vie
Fais la fête

Viens, vis la valse
Vis l'éclat des jours
Viens chanter l'amour

Ouvre tes portes
Reçois la vie chez toi
Gonfle ton coeur de joie

Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sent tes roses

Suis les mots du poète
Prends la vie
Fais la fête

A falta que a poesia me faz!

Não sei que te faça

Tão depressa te digo que te vás como te quero de volta.

O que vejo cá de cima


Dar a devida importância às coisas, separar o essencial do acessório e focarmo-nos no primeiro, parece-me ser um dos mais difíceis exercícios a que somos sujeitos constantemente. E, curiosamente, apesar da frequência com que a ele nos sujeitamos e do quão mal sucedidos somos, parece haver uma certa cegueira relativamente à questão e não nos preparamos devidamente para um melhor desempenho na vez seguinte.
Acumulamos objectos desnecessários, dispersamo-nos quando deveríamos trabalhar com afinco e, pior, gerimos mal as relações humanas - damos primazia aos detalhes desagradáveis, criticamos sem sermos construtivos mais do que elogiamos ou ajudamos, zangamo-nos mais por um pequeno mal do que nos alegramos por um bem maior. Existe o bota abaixo mas ninguém ouviu falar do bota acima. Praticamos a auto-indulgência e pensamos que os maus são sempre os outros. 
O resultado é o cansaço, a saturação, o fim da tolerância (qual?). É o afastamento, são as portas a fecharem-se. São os laços tão ténues que se desfazem à mínima tensão. É a descrença, a falta de confiança. São pessoas sós dentro de portas ainda que com amigos fora delas. São pessoas que vivem no seu castelo, construído com as pedras que, pensam, lhes foram todas atiradas quando a maioria são as que andaram a desenterrar. Pessoas que vivem no cimo das colinas...

sábado, 9 de maio de 2009

Pertencer


Saí ao fim da manhã e desci em direcção ao rio. Como sempre. Fui até à ponta do cais velho, em frente ao jardim, e por ali estive um bocado. Desta vez não olhei tanto o rio, mas a vila vista dali. A falta de objectividade do olhar faz-me sorrir tantas vezes... Sorri porque a achei linda apesar das ruas mal cuidadas e das casas com a fachada descascada. Achei-a linda como achamos lindos rostos dos que amamos. Deixei-me estar a sentir a brisa e o sol na pele, até que o calor me fez dar pelas horas. Regressei pelo interior da vila, pelas ruas estreitas, de passeios mais estreitos ainda, e casas minúsculas. Fui sentindo, à medida que avançava, o cheiro da roupa lavada que balouçava suavemente nos estendais improvisados às janelas, e que alternava com o do carvão a queimar nos grelhadores à porta das casas. Em cada recanto pulsava vida. De gente da terra, que é gente do rio. Da terra e do rio que sinto como meus quando os olho daqui, do cimo da colina.

A foto foi surripiada daqui.

Bonvikéndàtusse

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Emético


Umbigo todos temos e pobre de quem não olha um pouco para o seu, nem que seja para lhe tratar da higiene. O problema, na verdade, só começa quando se vive à roda dele, quando se pensa que nada mais importante existe. E, infelizmente, o que não falta é gente a pensar exactamente isto. Corrijo, a pensar pior - a pensar que quem não vive à roda dele é inimigo. 
Estas pobres criaturas nunca se olharam num espelho normal e, portanto, nunca se encararam como um todo. São desprovidas de verdadeiro sentido crítico. Só conseguem criticar os outros, coisa que fazem com mestria, usando argumentos tão estapafúrdios que qualquer um perde a fala. Daqui, tiram a "óbvia" conclusão que, se deixaram o outro sem fala, é porque estão pejadinhos de razão. 
Vivem tão cheios de si mesmos que não se enxergam. À menor contrariedade, em vez de perceberem o que realmente se passa (consigo) e tomarem medidas de forma a corrigi-lo, preferem sentir-se vítimas das circunstâncias, vítimas dos outros. Dos outros que, pensam, as rodeiam. Desenganem-se. Os outros não vos rodeiam. Estão por perto, o que é bem diferente. 
Cúmulo dos cúmulos é quando não lhes basta serem vítimas dos seus e ainda são vítimas dos que não conhecem. Acreditam em fantasmas e dedicam ódios de estimação a tudo e a todos.

Nada a fazer senão mantermo-nos longe desta malta e esperarmos que tomem os comprimiditos todos a horas para aguentarem os nervos.

É que... pssst, pssst,... eles andem aí. Fuge, fuge!

domingo, 3 de maio de 2009

Teimosia


Seguiu o curso normal, cíclico, que manda que depois da pujança venha o declínio. Os ramos viçosos amareleceram, as folhas secaram e durante dias não a reguei. 
Quando olhei para ela esta manhã decidi que não iria deixá-la ali muito mais tempo, a dificultar-me o fecho da janela. Mas não fui capaz de arrancá-la. Mesmo com a terra seca teimou em dar novos rebentos. Limpei das folhas secas e pequenos galhos a terra seca, dei-lhe de beber e podei-a. Há esperança. Para ela, há.