quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Humpf!


Das características humanas, as que mais abomino são a crueldade e a cobardia.
Possuo ambas em dose superior ao que gostaria.

Don't


Rosno um Don't... lento e ameaçador de vez em quando no trânsito, que é onde mostramos o que somos. Mostramos aí, no futebol a que não assisto e à mesa de jogo onde em criança tentava fazer batota se me via em risco de perder. Hoje lido bem com a derrota, se esta for ditada pelos dados.
E é só.
De resto, não gosto nada, mesmo nada, de perder. Quando acontece, tolero a derrota, revejo as jogadas, preparo-me e volto à carga. Pode ser muito tempo depois, mas volto. Percebi que tenho dificuldade em esquecer e deixar passar certas coisas e disso não sei se m'orgulhe ou se m'avergonhe.
Mas adiante que me desvio. Era sobre o rosnar Don'ts que queria escrever. Porque no outro dia, depois dum desses Don't, me saíu a frase completa, o Don't touch my Breil, sussurrado como no anúncio da TV, e pensei como somos, tantas vezes, sensíveis a que mexam no nosso espaço ou nos nossos pertences.
Por isso e porque hoje levei um Don't e isso pôs-me no lugar. Cada um de nós tem pontos delicados e sensibilidades, imperceptíveis aos olhos dos outros, que, tantas vezes sem qualquer má intenção, lhes tocam e fazem mossa.
Vou estar mais atenta e ... Promise won't touch your Breil again.

Your Facebook I mean.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

E esta?


Até há dias estava convencida que tinha na guelra sangue latino, daquele que nos puxa para o tudo ou nada, para o amor ou o ódio, com choros, risos, rangeres de dentes, facas e alguidares pelo meio.
Mas não.
Afinal sou capaz de distinguir, gerir e guardar em compartimentos separados, bem separados, o desagrado e o reconhecimento do mérito de alguém de quem, tenho a certeza, não gosto nem gosta de mim.

Não sei se me espante, se me alegre ou se me aflija.
É que a vida sem um toque de novela mexicana tem menos, muito menos, piada.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Second best(a)


Digo tantas vezes que P'ra melhor está bem, está bem, p'ra pior já basta assim. Porque não haveria de dizê-lo, sentindo-o, se é assim que diz o povo, que é sábio? Dá-me tranquilidade e aconchego teimar nisto, na sabedoria do povo...
De facto, quem tem ou teve algo de um certo nível, seja ele qual for, não quer mudar para pior. Custa. Importam pouco aqui as medidas absolutas porque tudo é, afinal de contas, relativo. São-no o bom e o mau também, não se duvide disso. E fazer comparações é coisa que a espécie humana faz com refinada e (in)conveniente mestria. A nossa memória é muito melhor do que julgamos e sabe, no momento preciso, arrancar a crosta e esfregar, bem esfregado, o sal na ferida. E o momento certo é precisamente aquele em que nos deparamos com algo semelhante ou pior do que algo mau que já conhecemos, algures, no passado. Nessas ocasiões, tocam em nós todas as sirenes de alarme que deverão fazer com que sejamos capazes de evitar a repetição do desastre. Diz-se que isto é bom e até tem nome: é ter aprendido a lição. Uma lição dolorosa.
O que a nossa memória não faz tão bem, se é que o faz de todo, é, no momento em que acontece algo banal ou particularmente bom, procurar nas nossas memórias, uma situação semelhante mas com um desfecho pior e tratar de valorizar a ocorrência presente. Ou seja, raramente aprendemos uma lição quando acontece algo bom. Uma lição doce.
Neste pé, quando pensamos e afirmamos estarmos a tornar-nos exigentes à medida que o tempo passa e nos tornamos vividos, estamos, em geral, a pensar na vasta colecção de lições dolorosas que aprendemos e que usaremos em nossa defesa. Mas se assim for, não estaremos, senão, a tornar-nos intolerantes e injustos. Se não aprendermos a coleccionar lições doces e a servirmo-nos delas também para avaliarmos o presente, pessoas e situações novas não conseguirão ir além de second best (ou besta) e não serão, portanto, elegíveis para fazerem parte da nossa vida. Porque só p'ra melhor é que está bem, está bem...

A fasquia da qualidade é tantas vezes, afinal, um garrote. Disfarçado, a sufocar lentamente.

Digo eu, que passo o tempo a mandar pr'a trás enquanto trauteio o The best is yet to come.
If you know what I mean...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ligação (in)directa


Enganam-se quando me tomam o São os teus olhos por frase feita ou saída de mal disfarçada modéstia. Não é. É a verdade dita da forma mais simples, que é a forma que o povo encontra para dizer as coisas sábias.
É nos olhos de cada um, por terem ligação directa com o coração, que está a beleza. E nós temos, por vezes, a felicidade de ser em nós que ela se projecta, ou, melhor ainda, ser em nós que ela acontece. E tem zero de objectividade.

Já o que se faz a partir daí, com a beleza que se vê ou que em nós é vista, depende de cada um. Depende, sobretudo, de se fazer, ou não, ligação directa. À cabeça.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Olé!


Ainda ontem me ri e disse cá comigo, pensando noutros claro está, Orientem-se. Hoje foi a minha vez. Incauta, dei o flanco e foi em mim que marrou o bicho. Passou-me o riso num ápice. Doeu-me como o raio, não a investida mas ter cedido, ter dado a oportunidade. Fiquei zangada durante algum tempo e praguejei entre lágrimas de irritação e vontade de rir pelas coisas em que consigo pensar quando praguejo. Praguejar resulta. É que rapidamente chega um momento em que digo basta, volta lá à Terra, miúda. E vê se aprendes, ok? Vê se aprendes!
Agora, horas depois, aconchegada no sofá a ver, através da chuvinha fina, Lisboa tremeluzindo ao longe, de computador no colo, a fazer aquilo de que gosto e que me faz bem, que é vir aqui, pergunto: aprender o quê? A não dar, nunca, o flanco?
Não me parece. Vou mais pela capacidade de me recompor. É que sem abertura, sem dar o flanco, não há descoberta. E há tantas, tantas coisas boas por acontecer!

É claro que uma faixazinha abdominal ajuda ao embate. Ai se ajuda!

sábado, 9 de janeiro de 2010

What else?


Na preguiça a que tenho direito nas manhãs de fim-de-semana, dei comigo a apetecer-me que viesse este moço cá a casa pintar-me as unhas dos pés.
Se não queria mais nada? Claro que sim. Um Nespresso. What else?

O maior espectáculo do mundo


Chegaram em meados de Dezembro e instalaram-se no terreiro em frente ao pavilhão da antiga fábrica de lanifícios, aquele que serve agora para exposições temporárias e para a feira das comunidades migrantes. No mesmo terreiro aonde, aos domingos de manhã, um grupo de donos dedicados levam os respectivos cachorros às aulas de andar de trela curta, sentar, levantar e rebolar, dar a pata e ziguezaguear entre pinos. Enfim, cada um sabe de que carga semanal se quer livrar... E que fazer se burro velho não aprende línguas, mas os cães quem sabe, talvez com eles seja diferente?
Não sei a que horas chegaram mas quando dei por eles, noite alta, estavam apagadas todas as luzes, tudo era sombra sob os eucalitpos. Acesos, restavam apenas os neons e lia-se WA TER D AS. O mistério dissolveu-se na manhã seguinte quando passei, bem cedo, e pude ler, entre a neblina vinda do rio, CIRCO WALTER DIAS, num tipo de letra que, percebi, estava ao gosto de quem sonha com a Disney em technicolor.
Lembro-me que rosnei qualquer impropério entre dentes, chegam-me a balbúrdia das feiras no verão e as frenéticas campanhas de Natal que começam em Outubro, e desejei que se fossem depressa. Não foram. Mas também não vi vivalma naquele terreiro, gente na bilheteira, crianças curiosas junto ao camião das feras, nem feras detrás das grades. Zero durante três longas semanas.
Comecei a passar mais devagar, a procurar as trapezistas, o mágico, a domadora de caniches, o palhaço pobre... Nunca vi uma alma sequer. Arrependi-me de ter querido vê-los pelas costas e dei comigo a pensar em cada um deles. E lembrei-me dos artistas do Circo Fúria, que vi quando tinha 8 anos, e que deve ter sido o circo mais pobre à face da Terra. A única atracção animal era um cavalo velho negro, o Fúria, que após dar umas voltas à arena minúscula, simulava bravura com uns coices para depois se deixar domar por um homem de chicote longo, cartola, jaqueta vermelha, botas altas e calças brancas, justas, muito encardidas. Depois do Fúria vieram as trapezistas, duas mulheres jovens, de cabeleiras loiras, muito pintadas, muito iguais, de capa de veludo azul eléctrico. Pareceram-me em bem melhor estado que o cavalo mas quando tiraram as capas vi que as collants tinham buracos e que as sandálias altíssimas, de plataforma dourada, estavam cheias de lama. Subiram para o céu da tenda, penduraram-se pelos pés e balançaram-se num trapézio sem rede ao som de um tamborete nervoso. A partir daí e durante muito tempo o circo pareceu-me muito difícil e até triste.
Anteontem, quando passei junto ao terreiro, a tenda grande já estava no chão, a rulote da bilheteira já não ostentava os neons e o cercado dos animais, aqueles que não cheguei a saber o que eram, sequer, estava desmontado e empilhado. Mas ninguém por ali. Achei quase natural, era hora de almoço.
À noite, no regresso a casa, tinham-me devolvido o terreiro mais os eucaliptos, para debaixo dos quais voltará a escola de andar de trela curta, sentar, deitar, rebolar e dar a pata à voz de comando já este domingo.
Foi então que tive, como nunca, saudades dos palhaços. Livres, de terra em terra, sem escola daquela que funciona sob os eucaliptos aos domingos de manhã.
Não é o circo que é triste.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

No te empeñes mas


Não era dia de vir aqui, não tinha havido urgência até há pouco. Daquela boa, da que me faz adiar afazeres domésticos e me leva a sentar-me aqui e dedilhar. Aquela urgência que me faz, cada vez mais, sorrir comigo mesma e ser feliz porque só porque sim. Mas depois apeteceu-me, quando pus a tocar, baixinho, o Nocturnal de Charlie Haden. Quem já tiver ouvido isto cá em casa com luz suave, recostado no sofá, vendo as luzes da cidade e, noite alta a lua, brilhando sobre o rio, sabe que esta é a música perfeita para fazer as pazes com o mundo inteiro e ter a certeza que a riqueza maior da vida são o presente e a surpresa do que está para vir.
Veio isto a propósito da música escolhida, No te empeñes mas, que, ao contrário do que possa parecer, não quer dizer Desiste. Ao invés, é um convite à calma, ao respirar fundo, ao perspectivar e à reflexão. Convém que saibamos o que andamos a fazer e em que temos empregue a nossa energia. Sem descartar aquelas que são obrigações fundamentais, parece-me haver demasiada dedicação ao supérfulo que, sendo atraente à primeira vista, nos mantém reféns depois.
Nunca como agora me apeteceu tanto no me empeñar mas por tudo o que, realmente, não me faz melhor nem mais feliz.

Pois... a foto. Ai a foto...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Paz


Que aconteça um pouco mais por todo o mundo e em cada um de nós.

Me-do


Muito, mesmo.
Um mês inteirinho a faltar ao ginásio e o frio a puxar à busca do conforto pelo estômago. O bolo Rei, as nozes, os assados e o bacalhau. Vale que os doces no me piacene por aí além. Mas porque é início de ano e porque fazer de avestruz logo no dia primeiro é mau agoiro, fui buscá-la e trepei. Expirei, sussurrei-me um ne bouge pas e olhei para baixo devarinho: 53. Não sei se grite, se me descabele ou se me alegre por não ser ainda pior.

Enquanto medito sobre as medidas a tomar, vou ali a casa do mano deliciar-me com o cozido à portuguesa. Sexta-feira é uma mau dia para começar uma dieta, não é?