Mesmo que aqui já à porta, pouco importa onde. Interessa não deixar fugir os dias, interessa não adiar a vida. Ou a parte dela que queremos e (ainda) nos falta.
Juro que por vezes me sinto isso mesmo, uma ave rara, quando digo, insisto e repito que o melhor dia da semana é a segunda-feira. E insisto não obstante os olhares oblíquos de quem, lá por dentro, diz tadita-não-tem-vida-própria-é-o-que-é,-ou-odiaria-as-segundas-feiras-por-lhe terminarem-com-o-dolce-fare-niente-do-fim-de-semana. Nada disso. Sou apenas uma abençoada, que gosta mesmo muito da profissão que tem (porque a escolheu) e que vê, em cada segunda-feira, uma oportunidade renovada. De fazer de forma dedicada aquilo que (também) a faz muito feliz - aprender e ensinar.
Aquele a que chamei durante toda a primavera do ano passado o meu "Mil folhas", não pelo número de folhas mas pelo processo de dedicação e paciência que me exigiu, por crescer em fatias finas, uma a uma,vai ser lançado! Edição modesta, como a mais não poderia aspirar uma versão tão rudimentar. Mas vai ter direito a ISBN e tudo e tudo.
Ter uma publicação editada (não consigo chamar-lhe livro ainda) não é como ter um filho mas é um bocadinho parecido - sente-se uma ternura imensa, vontade de rir e de chorar, também, sem se saber ao certo porquê.
... a minha última tarde de 2009 - a fazer algo de que gosto para quem gosto.
E para ilustrá-lo, nada melhor que esta moça, que é da mesma colheita que eu, e com quem partilho uma crença: a de que é francamente possível a convivência com um homem desde que cada um tenha a sua casa-de-banho.
E volto para junto do meu forno, onde doura um lombo recheado com ameixas e farinheira. Enquanto isso, vou tratar das cebolinhas para caramelizar. Até já. Ou até para o ano.
Acordei tão, mas tão, bem disposta que acho que será desta que farei com um sorriso nos lábios e de forma diligente uma série de coisas chatas que tenho vindo a adiar. Isso e livrar-me de coisas de que não preciso e, porque não, dalgumas outras que quero que deixem de me fazer falta. Apetece-me desafogar a casa, a vista, a vida. Para que esta última seja mais simples e, por isso mesmo, mais apreciável.
Há em mim, bem cá dentro, um fervilhar. De vontade.
Sou feliz agora, sem ter alcançado tanto do que um dia julguei ser essencial. E eu, tola, que cheguei a pensar que este dia não chegaria!
Que queres que te diga sobre o risco, senão que me apetece pisá-lo?
Mas se me queres ouvir sobre Teoria do Risco, terás de esperar pelo segundo semestre do próximo ano. Sim? É que este, é de sabática. Ano de pisar o risco, de descobrir. De ver (ainda mais) para além do muro e não de reescrever histórias antigas.
... estarei de volta. Mas para já tenho de ir até ali.
Os últimos dias passaram a correr, tal foi o amontoado de coisas para fazer. Enervantes, exigentes, rigorosas, com prazos apertados e sem margem para erro. Para dizer a verdade... gosto!
E por estar de volta sinto-me, usando uma expressão dos lugares por onde andei, como pinto no lixo - FELIZ! Não importam as malas meias por desfazer, o excesso de roupa na tulha, o frigorífico vazio, a agenda a abarrotar com trabalho em atraso. Estou de volta. A mim, aos meus, à minha casa. E não há como isto.
Pelas nove da manhã deitei-me à sombra da ameixeira, a ver o azul do céu entre os ramos carregados de ameixas e folhas brilhantes. Passou pouco tempo até que a minha atenção se centrasse na corrida frenética das formigas tronco acima, tronco abaixo, e me lembrasse das histórias que tenho com elas, embora apenas uma se conte com graça na família. Resume-se a um carreiro delas comido por mim aos quatro anos, caçadas uma após outra por um dedito molhado depois de, ao almoço, e para evitar que não terminasse a refeição por ter visto uma formiga a rondar-me o prato, o pai me ter dito "até a podias ter comido, fazem os olhos bonitos". Não recomendo o pitéu, são duma acidez tão inesquecível quanto inenarrável.
Por um dia larguei a minha formiguice e fui cigarra. Vi céu o dia inteiro, entre sol, água, espreguiçadeira e risos. Comi a ameixa mais doce, deitei-me à sombra e adormeci ouvindo isto
Out of the tree of life I just picked me a plum
You came along and everything started to hum
Still it's a real good bet the best is yet to come
The best is yet to come and babe, won't it be fine?
You think you've seen the sun but you ain't seen it shine
(...)
Não a escutei até ao fim mas sei que sim, que o melhor ainda está para vir.
Depois houve convívio e muito riso. A tarde foi de preguiça, passada na praia. Areia, corpo salgado de mar e sol, malgré os avisos sobre a radição UV elevada. A que senti ao fim do dia sob a água morna do chuveiro, à noite contra os lençóis e hoje, ainda, sob a t-shirt.
Sei que é burrice e que não é para repetir mas, tra me e me, soube-me bem, teve o sabor da adolescência - quando o começo das férias era marcado pelo primeiro escaldão do verão.
Sim, sei, penitentiate, ha fatto male: sol, sal e vento são bons para seca do bacalhau. Mas tinha soldades como dizia o mano quando era pequeno...
Depois disto não voltarei a olhar para ela da mesma forma. Cresceu. Tem 16 anos feitos há pouco e este trabalho é dela. É minha sobrinha e eu estou felicíssima por descobrir a pessoa em que se está a tornar.
Desconfio que mais dia menos dia passaremos a vê-la nos outdoors.
Catorze semanas sem direito a fim-de-semana que não fosse de trabalho. 19:30 do dia 31 de Maio e terminei!
Vou largar esta máquina infernal, abrir a janela da sala, deixar o ar fresco da neblina que se formou sobre o rio entrar e atirar-me para o sofá. E vou ver um filme, lavar a vista com esse senhor que está aí acima. Um homem bonito na tv num final de tarde de domingo deixa-me francamente bem disposta.
A felicidade é realmente feita de pequenas coisas. Hoje vou ver essa paisagem e sei que me vai fazer muito, mesmo muito bem. Mesmo que a ocasião seja para despedir-me de amigos queridos que não verei por uns meses.
Por muito que pareça manifestar o contrário e apesar de quase ter banido a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural, continuo a achar que o melhor de tudo são as pessoas. Pelo potencial que cada uma encerra, pela surpresa boa que poderão ser se nos demorarmos um pouco com elas. Não quer isto dizer, de todo, que gosto de toda a gente. Nem por sombras. Apenas que acredito que terei, ainda, muitas surpresas boas na vida.
Li poesia de minha predilecção esta manhã, quando não esperava encontrá-la. E isso fez-me tão bem!
Não é teimosia, é persistência. E não podia ir dormir sem resolver a questão, não iria adiantar e amanhã iria acordar transparentezinha como esse gato aí e sem o sorriso.
Nada como fazer as coisas como têm de ser, mais, QUANDO têm de ser. Em suma,
os cálculos que me arruinaram o domingo estava CERTOS
e
o livro, o tal que me tem servido de bíblia, tem um erro numa fórmula.
Já chegou ter centrado o desabafo. Como diz a Sra. D. Maria Alice, um engano qualquer pessoa o tem e vocês, Hand, Manilla e Padhraic são apenas humanos e estão perdoados.
Aprenda eu com esta, por me ter saído do pêlo o esforço, a trabalhar com bibliografia mais diversificada, ou seja, a carregar mais da biblioteca cá para casa. Isso e a ser mais esclarecidazinha.
Em (r)evolução.
Fascina-me o génio do género humano.
A curiosidade genuína pelos comportamentos, a causa das coisas, o como fazer e o como funciona move-me.
Gosto de ar livre, de natureza e de desporto.
Gosto de olhar nos olhos e de escrever - coisas que me fazem bem.