sexta-feira, 15 de maio de 2009

It takes two


Sempre gostei de palavras. Minto, nem sempre. Sempre as usei muito, isso sim. Em criança, apesar de falar pelos cotovelos, as palavras não eram senão a ferramenta que me permitia fazer perguntas e nunca me encantaram por si só. De resto, a imaginação que emprestava à elaboração de teorias e ficar pendurada de cabeça para baixo eram o que mais me divertia. Só muito mais tarde comecei a gostar verdadeiramente das palavras - foi quando percebi que deveria falar menos e pensar mais, coisa que assimilei mas que ainda não aprendi a colocar em prática tanto quanto gostaria.

Passei a falar menos, é certo, mas passei a escrever. Agora estou à espera de deixar de escrever, de pensar apenas. E só. Quero perder a sensação de inchaço que me obriga a pôr as coisas cá fora depois de (mal) filtradas. Aspiro tanto ao silêncio tranquilo de quem não sofre por miudezas...

Aspiro a ele mas não é desta. Desde esta manhã que há uma palavra que preciso deitar cá para fora: comprometimento.

Comprometimento.

Ou compromisso, que é a mesmíssima coisa, atesta o Priberam. Gosto mais da primeira forma.
Basta olhar para ela para se perceber o que significa. Senão, vejamos - comecemos por parti-la em duas - com + prometimento. Ou seja, algo que se fez em conjunto (com) + prometimento, ou seja, promessa. Um compromisso ou comprometimento é, pois, algo que duas pessoas (ou entidades - mas que acabam por, de alguma forma, ser personificadas) assumem. Assumem e devem cumprir, como pessoas de bem que todos fazem questão de frisar que são. Até o Estado.

E anda este bater de tampas por aqui porque a M., que é minha aluna de mestrado, inteligente, talentosa, de espírito aguçado e trabalhadora, está a rebentar pelas costuras. Porque é ela que quase sempre a sós cuida de uma promessa que não fez sózinha. Da promessa, dos três filhos, do trabalho precário, da tese. Deixei de lhe perguntar "como vai?" quando chega porque nessas alturas os olhos brilham-lhe demais. Não perdemos tempo em lavagens de alma, temos mais que fazer, temos um compromisso: eu de orientá-la, ela de fazer a tese. E não é desta que deixaremos de ser pessoas de bem.

Entregou-me a primeira versão completa da tese. Dedicou-lha e aos filhos. Coisa de que ele se gabará aos amigos. Ou talvez não.

1 comentário:

LittleHelper disse...

Este tema é com toda a certeza assunto para uma conversa mais profunda. Até lá "apenas" te direi que - mais uma vez - não me surpreendes; mais um passo (diria vários num só), altruísta, amigo, compreensivo e indignado, porque aqui e ali a indignação também faz falta!

Quanto à compreensão, dedicação e companheirismo (parando por aqui para não me alongar a "substantivar" o que por si só deveria bastar) daqueles(as) que têm uma visão mesquinha da vida a dois , apenas direi: Ainda bem que não só sou eu que pensa e assim.