sábado, 15 de agosto de 2009

Raízes


Voltei a casa. Estranhamente, o cheiro da nossa casa, aquele que nos dá as boas vindas, não me encheu os pulmões. Voltei a inspirar profundamente. Nada, estranhei.
À luz ténue do traço de luar reflectido no chão tudo parecia estar tal como tinha deixado. Pousei a bagagem a acendi a luz do candeeiro da entrada. Tudo na mesma menos o cheiro.
A apreensão deu, lentamente, lugar a uma alegria miúda que cresceu e se instalou - não pertenço aqui nem a qualquer lugar e estou em paz com isso. Sorri.
Se não tenho raízes? Tenho. Em mim, no mais aéreo de mim, numa trama complexa onde pulsam amores, sensações, recordações e sonhos.
Outra mudança.
Temporária.
Como tudo é na vida com excepção da morte.
Que eu saiba.

Talvez tudo isto seja falso. Talvez sejam apenas saudades da liberdade que se sente quando se pedala, no sossego da noite escura alentejana, sob a chuva de meteoritos. Sei lá. Sei tão pouco...

7 comentários:

edu disse...

Raízes? Ás vezes era melhor nem as ter. Andava-se só por aí, qual estoura-vergas, à boleia da ventania...

Alexandra disse...

Também senti isso. E sei que o meu papel agora vai mais além. Passou o tempo em que pouco mais fazia do que carregar-te no banco de trás...

Mutante disse...

Não há como não as ter senão, talvez, perdendo a memória. Mas antes assim, tê-las connosco, naquele que é o reduto da nossa liberdade - o pensamento.
Estas vontades, de partir estrada fora de peito ao vento, não são mais do que a vontade de ter por que querer ficar. Vontades que vão e vêm, que temperam e colorem a vida. Sim, Edu?

Mutante disse...

Mana,
as viagens, as idas mais além, têm, todas, um ponto de partida. Algumas das minhas foram sonhadas enquanto me carregavas na bicicleta. Na tua bicicleta encarnada com um pequeno assento de madeira em forma de selim que o Pai fez para que me levasses contigo quando eu ainda não sabia pedalar.
Já te ocorreu que essa pode ter sido semente que ganhou raízes em ti e fez com que hoje carregues o teu filho na bicicleta, para todo o lado, chova ou faça sol?

edu disse...

A modos que o teu comentário me fez lembrar disto:

"Aquele que adivinha a minha vontade adivinha também os caminhos tortuosos que precisa seguir" - Assim falou Zaratustra, Friedrich Nietzsche. :P

Mutante disse...

Verdade verdadinha. Procuro conhecer os caminhos, tortuosos ou não, que preciso seguir. E o que escrevi, como quase tudo o que vou deixando por aqui, é para mim também. Como acho que muito do que vemos nos outros não é senão reflexo de nós mesmos.

Alexandra disse...

Aqueles em quem deixei raízes dizem muitas vezes, tal como eu, "adoro". E "gosto de ti, amor". "Mamã, eu também gosto de Timor". :P
PS: Adoro-te.