segunda-feira, 23 de novembro de 2009

No me lo creo


Porque é que escreves? Como é que fazes? Urgência. Apenas.
Não convenci e por isso, dias depois, lançou-me um Vê se escreves. Prometi que sim, se viesse a urgência. Disse-me que ficaria à espera, uma espera injusta.
Bastaram essas palavras. Acho que muitos anos depois ainda sabe picar-me, como fazia quando se sentava ao meu lado nos primeiros anos da escola secundária. Ou sabe ou foi por acaso, mas resultou.
Não sei que lhe fiz, foi o que pensei de repente. Por isso corri até à cozinha e espreitei a lateral do frigorífico. Lá estava, perto da esquina, pendurada com um íman, a tampa do iogurte. Peguei-lhe para ver a data, expirava a 21 de Outubro. Não tinha o ano mas sei bem que foi em 2006. Qual bolinho da sorte, acreditei e afixei-a para que me iluminasse. Guardei-a em tempos difíceis, em que qualquer tolice me parecia um sinal da proximidade de dias melhores. Dias melhores que não chegaram enquanto esperei daquela espera, da sentada. E esperei muito. O que não percebi na altura, mas que hoje sei bem, é que a espera é como os lacticínios: deve ser consumida num prazo razoavelmente curto. Expirado este, está condenada a azedar.
E foi preciso que azedasse para que eu percebesse que muito melhor do que esperar, é não esperar. Porque só quando não se espera é que existe a surpresa, o encantamento, a maravilha e o que sucede é apreciado e não comparado e rotulado como bom ou mau consoante exceda ou fique aquém do esperado.

Se existe o reverso da medalha? Sim. É que quem não espera, não por não depositar nos outros a responsabilidade daquilo de que precisa mas por se ter tornado impaciente, não se senta, raramente se detém. E deter-se calma e pacientemente é fundamental para maravilhar-se.

Não esperes, portanto. Não esperes nada de mim.

4 comentários:

Alexandra disse...

Está tudo muito bem. Mas não ponhas títulos em espanhol, que me arrepias. Puro marketing ;)

Mutante disse...

Combinado, cariño.

Anónimo disse...

Continuo a ler e reler, de cada vez, nem sempre a compreender ou então a entender diferente... mas sempre, sempre a esperar por muito... já nem sei se bem se venho à procura de coisas novas ou reler as menos recentes, mas que estou sempre à esper... a aguardar por algo, isso estou.

Seguindo os avisos, vou-me deter a esperar à espera, não esperando :)

... agora a tampa?...

("quem espera sempre alcança" mas "quem espera, desespera")

Mutante disse...

É mesmo essa a questão: tudo muda! Muda o mundo e muda nossa percepção das coisas, situações e dos outros. E é por isso que é importante para mim escrever. Porque, mesmo abraçando a mudança, preciso de me deter e de deixar a impressão do momento. E acontece-me o mesmo - por vezes releio e sinto o mesmo, outras vezes é como se ali estivesse uma novidade. E isso agrada-me!
Quanto à espera, acho que não há receitas. Compete-nos o exercício de reflexão e avaliação e ter noção de que, por exemplo, a espera que corresponde a dar tempo a algo ou a alguém é diferente da espera expectativa. Mas cada caso é um caso e como resultado da espera (mas sobretudo de como esta for conduzida) alcançamos ou nos desesperamos.